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Crítica “Onde está você, João Gilberto?”

 

João Gilberto é mais que uma estrela. Dito por muitos artistas como fundamental na música brasileira, foi um dos principais responsáveis pela internacionalização de nossa música através da Bossa Nova, estilo único que influenciou uma quantidade impensável de músicos dentro e fora do Brasil. É clichê estabelecimentos turísticos como hotéis tocarem ao som ambiente aquele gingado suave e ao mesmo tempo tipicamente animado, principalmente aquele conhecido: “Chega de saudade a realidade é que sem ela não há paz, Não há beleza é só tristeza e melancolia, Que não sai de mim, não sai de mim, não sai”…*

É bem provável que não possamos dimensionar o furacão que representa a Bossa Nova e por consequência, a própria figura de João Gilberto. Curiosamente a imagem acima é um frame do filme em questão, ao lado temos um livro de outro furacão, senão maior, Elis Regina. É comum essas personalidades serem bombardeadas por assédio difícil de conviver. Quando eles respondem com uma personalidade difícil ou excêntrica, geralmente a crítica inflama. Elis, foi tachada de pimentinha devido a personalidade fortíssima, embora os amigos íntimos a defendam vigorosamente. João adotou estratégia comum, mas perigosa: se isolou do mundo de maneira eficiente e até aparentemente estranha. Trancado em sua residência, não tem contato físico com quase ninguém. Recebe suas refeições e correspondências sem contato nenhum. Visitas então, impossível.

O curioso disso tudo é que a grande maioria das pessoas que tiveram contato com ele, principalmente os mais íntimos, relatam uma personalidade cativante, interessante e estimulante.

Mas o que falar de quem só teve o contato com sua música? É absolutamente maravilhoso pensar que um alemão lá do outro lado do mundo foi cativado por essa arte a ponto de escrever um livro interessantíssimo sobre João (HO-BA-LA-LÁ – À Procura de João Gilberto, do escritor alemão Marc Fischer). Mais curioso ainda é um cineasta francês fazer um documentário cheio de um estilo elegante (a maneira da Bossa Nova) revivendo os passos da jornada desse escritor apaixonado por uma arte que se afirma cada mais viva e não pertencente a seu próprio criador. Assim é “Onde está você, João Gilberto?” Quanto a pergunta do filme, é provável que seja dispensável. É provável que esse artista já tenha nos dado tudo. Vamos deixá-lo em paz.

Nota: 4,2  de  5

 

*Chega de Saudade (Vinicius de Moraes)

 

Onde está você, João Gilberto? (Suíça, Alemanha, França, 2018)

Direção e roteiro adaptado: Georges Gachot

Elenco: Georges Gachot, Miúcha, Marcos Valle, João Donato, Roberto Menescal e outros

Inspirado no livro HO-BA-LA-LÁ – À Procura de João Gilberto, do escritor alemão Marc Fischer.

 

 

 

 

 

 

Trailer Oficial:

 

 

 

Vitor Damasceno

Estudante de cinema atualmente vivendo em Buenos Aires.

2 thoughts on “Crítica “Onde está você, João Gilberto?”

  • Nao era nada elementar que daria caldo, mas a criatividade de “Onde esta voce, Joao Gilberto?” deve ser reconhecida. Ele comeca como um filme sobre Joao Gilberto, que se revela um filme sobre Marc Fisher, que volta a ser sobre Joao Gilberto de novo, e que vai se repetindo dai em diante, porque, diabos, a bossa nova sempre repetiu lindamente suas batidas.

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    • Vitor Damasceno

      Perfeita consideração !! É inegável que o diretor se apropriou não só da história de Marc Fischer, mas da própria Bossa Nova !

      Resposta

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