Fúria Primitiva | Crítica

Em um cenário onde filmes de vingança têm uma presença marcante, ¨Fúria Primitiva¨ emerge como a estreia notável de Dev Patel na direção. No entanto, enquanto o filme mergulha no turbilhão da vingança, sua narrativa transcende a mera busca por justiça pessoal, abordando questões mais profundas e urgentes que ecoam no contexto sócio-político da Índia contemporânea.

Uma das facetas mais notáveis de Fúria Primitiva é sua habilidade em criticar o sistema de desigualdade arraigado na sociedade indiana. Patel tece uma teia complexa de intriga e injustiça, expondo as disparidades econômicas e sociais que permeiam a vida dos personagens. Enquanto o protagonista busca vingança contra aqueles que lhe causaram uma perda pessoal irreparável, a morte da sua mãe, e daí decorre a trama do longa. Todas as suas ações ecoam um clamor por justiça em um sistema que favorece os poderosos em detrimento dos marginalizados.

Além disso, a trilha sonora do filme merece destaque como um elemento que eleva a experiência cinematográfica. Cada nota musical é cuidadosamente selecionada e habilmente integrada à narrativa, guiando as emoções do espectador de forma precisa, seja num treino com saco de pancada, numa entrada num ambiente refinado, na luta em si, desde momentos de tensão palpável até cenas de contemplação silenciosa, a trilha sonora de Fúria Primitiva é um companheiro indispensável a ação.

No entanto, apesar de suas qualidades distintas, o longa não está isento de falhas. Em vários momentos do filme é notável certos clichês narrativos ou momentos de previsibilidade que denotam a sensação de já vi isso antes. No entanto, essas falhas são eclipsadas pela força de sua mensagem e a habilidade de Patel em criar uma obra cinematográfica que ressoa com um esforço acima da média pra entregar uma produção atual e pessoal de seu ponto de vista.

Certamente! Com a influência marcante de Jordan Peele, que atua como produtor de Fúria Primitiva, o filme adquire camadas adicionais de profundidade e tensão, especialmente através dos elementos de terror habilmente entrelaçados na trama. Peele, conhecido por suas obras notáveis de horror e suspense, como Corra! (2017) e Nós (2019), aparentemente traz sua expertise para amplificar a experiência cinematográfica, criando um clima de inquietude e suspense que permeia toda a narrativa.

É interessante observar como a produção do filme utiliza os elementos de terror para explorar e intensificar os temas do filme, em particular, as divindades hindus que servem como pano de fundo para a história. Ao mergulhar nas crenças e mitologia hindus, o filme transcende o simples entretenimento e abre espaço para reflexões mais profundas sobre a natureza da fé, sacrifício e redenção. As divindades, muitas vezes retratadas de forma grotesca e ameaçadora, personificam os medos e as incertezas dos personagens, adicionando uma dimensão sobrenatural à narrativa.

Além disso, a habilidade de Peele em criar uma atmosfera de constante suspense e terror psicológico se torna evidente ao longo do filme. Cada cena é cuidadosamente construída para manter o espectador à beira do assento, explorando os terrores ocultos que se escondem nas sombras da sociedade e da psique humana. A presença das divindades hindus serve como um lembrete constante do desconhecido e do sobrenatural.

Assim, a influência de Jordan Peele em Fúria Primitiva não apenas adiciona uma camada intrigante de terror ao filme, mas também enriquece sua narrativa, explorando temas complexos e universais por meio de um prisma sobrenatural. É essa fusão única de horror, crítica social e mitologia que torna o filme uma obra cinematográfica verdadeiramente memorável e impactante.

Em suma, “Fúria Primitiva” não apenas se destaca como um impressionante filme de vingança, mas também como uma poderosa crítica social que confronta as injustiças arraigadas na estrutura da sociedade indiana. Com sua estreia na direção, Dev Patel solidifica sua posição como um talento multifacetado a ser observado, enquanto nos presenteia com uma obra que ecoa muito além das expectativas convencionais do gênero.