Resenhas

Resenha: A forma da Água, Guillermo Del Toro e Daniel Kraus

Nome do Livro: A forma da Água
Nome Original: The Shape of Water
Autor(a): Guillermo Del Toro e Daniel Kraus
Editora: Intrínseca
Tradutor: Edmundo Barreiros
ISBN: 9788551002773
Nota: 4/5
Páginas: 352
Ano: 2018

Richard Strickland é um oficial do governo dos Estados Unidos enviado à Amazônia para capturar um ser mítico e misterioso cujos poderes inimagináveis seriam utilizados para aumentar a potência militar do país, em plena Guerra Fria. Dezessete meses depois, o homem enfim retorna à pátria, levando consigo o deus Brânquia, o deus de guelras, um homem-peixe que representa para Strickland a selvageria, a insipidez, o calor – o homem que ele próprio se tornou, e quem detesta ser.Para Elisa Esposito, uma das faxineiras do centro de pesquisas para o qual o deus Brânquia é levado, a criatura representa a esperança, a salvação para sua vida sem graça cercada de silêncio e invisibilidade. Richard e Elisa travam uma batalha tácita e perigosa. Enquanto para um o homem-peixe é só um objeto a ser dissecado, subjugado e exterminado, para a outra ele é um amigo, um companheiro que a escuta quando ninguém mais o faz, alguém cuja existência deve ser preservada.

Logo quando a editora Intrínseca liberou os pedidos desse livro, não pensei duas vezes antes de solicitá-lo para trazer uma avaliação positiva ou negativa do mesmo, foi logo quando o filme foi estreado nos cinemas. Queria mesmo ver se existia muita diferença sem contar que ele é escrito pelo Guillermo Del toro e Daniel Kraus. Pensava que encontraria um romance entre um protagonista e um ser sobrenatural, o tal do homem-peixe. Dessa forma houve uma satisfação e muita surpresa, a leitura me instigava a continuar antes de ver mesmo o filme.

Para quem não conhece o autor, Del Toro é muito mais do que uma miséria história e nunca são somente focadas em um único detalhe. Tudo em seu enredo é improvável e um grande “q” de místico. Tudo que você imaginar de impossível e real, encontrará em suas tramas. Aqui, as maravilhas do que é sonhar é um complemento importante para avançar em sua leitura.

Elisa é a nossa personagem principal. Sua narrativa caminha em diversos temas, um deles pode ser um dos mais importantes ao meu ver, – as diferenças. A garota era muda, uma órfã. Era uma servente de Occan e todos os dias o seu resumo era limpar e repetir todos os dias. Ela nutria uma amizade grande com Giles, um artista gay decadente, ele nunca perdeu a esperança de chegar a ter um dia melhor. Também contamos com Zelda, personagem esta de muita garra que passa por preconceitos e humilhações por não ter uma pele simples e branca. Ao lado de Elisa sempre tinha pessoas que aspiravam a ela confiança. O mais engraçado é a aceitação dela, fico pensando em nosso mundo atual, aceitar as pessoas como eles são, uma grande luta que vivemos diária.

Então o autor despeja o sobrenatural, um recurso da Occan. Diferentes no sentido, mas iguais em suas estranheza, compreendem? O homem-peixe não a julga por não falar, sua humildade ou até um pouco da sua forma desajeitada de ser. É com Elisa que ele encontra toda a paz e alento que falta das pessoas que o torturam (cuidam). Ele acaba gostando dela porquê demonstra quem realmente ela é. Aqui o amor soa como uma poesia e bem diferente de outros livros que já li. Toca nossas almas, e tudo se torna evidente que ainda é possível acreditar no amor e na bondade das pessoas, sem o tal julgamento que sempre acompanha. São as ações que importam, nunca o físico da pessoa ou o que ela pode apresentar ou disponibilizar.

Diferente de Elisa, o outro personagem, Richard Strickland é o seu oposto, muito arrogante, todos apresentam o medo evidente.  Possui tudo, família, filhos, trabalha no governo e é rico. A infelicidade é maior ao lado dele, o que de certa forma faz com que desconte tudo nas pessoas ao seu redor. Ele deseja acabar com esse estudo com o devoniano ( o ser capturado), tudo isso vem lhe consumindo muito e acabando com sua vida. Colocando tudo em risco, todas as suas conquistas.

Os autores trabalham juntos, claros e de uma forma bem precisa, sem enrolações, usando os personagens para contextualizar, fato que amei. Momentos dentro do livro como os anos 60, acabam mostrando como as pessoas na época não poderiam tanto se mostrar. Como a esposa de Strickland, o homem de 50 anos, e a sua homossexualidade. Imagine se tudo isso na época viesse à tona? O preconceito racial foi outro momento que me despertou muito interesse, no diálogo de Zelda com seu marido, quando falam do modo de ajudar Elisa e os problemas que trariam para eles por serem negros. Na época perder um emprego era um sacrifício encontrar novo pela cor. Engraçado que como eu abordei acima, tudo que vemos aqui durante a leitura ainda acontece em nosso meio.

Não engane com o livro, ele não foca somente nos personagens vai mais além. É uma leitura muito rápida e fácil de lhe dar. Você vai surpreender muito! Há um equilíbrio enorme, os dilemas pessoais, as conspirações junto aos agentes do governo americano e russo e as críticas sociais de uma forma tão clara. Um conselho que dou, junto todas as peças dentro da trama, nada ali contado fica solto tudo aparecerá seu significado ao longo da leitura.

A editora Intrínseca fez um trabalho incrível que logo me surpreendeu. O capricho foi grande com a capa e toda diagramação do livro. A tradução ficou impecável e não apresentou erros de concordância.

Leitura bastante recomendada! Agora ficou bem claro os motivos que levaram o filme faturar o Oscar. Apresentando uma narrativa poética, nostálgica e muitas vezes repassando sua melancolia fará voltar ao nosso interior e buscar sentidos para os nossos sentimentos e do nosso ser.

 

Philip Rangel

Philip Rangel é estudante de direito, administrador e resenhista do Entrando Numa Fria, técnico em informática, nárniano, pertence a grifinória, leitor assíduo, futuro escritor, amante de livros, séries e filmes.

2 thoughts on “Resenha: A forma da Água, Guillermo Del Toro e Daniel Kraus

  • Luana Souza

    Como o livro te mostra um lado diferente da obra né ? Com essa resenha pude entender melhor esse romance improvável e compreender a ideia do autor. Realmente em um mundo onde a beleza anda prevalecendo mais que o caráter esse livro deveria ter leitura obrigatória, e ainda aborda outros temas importantes como a sexualidade e o preconceito.

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  • Nathalia silva

    É bem interessante quando vejo que mais de um autor escreveu uma história. Fico me perguntando como eles combinam, afinal, é bem provável que haja muitos desacordos e tal. Enfim, O lançamento do livro se torna positivo tendo em vista que é uma ótima maneira de elucidar alguns pontos. Fica claro em sua resenha o quanto ele pode ser explorado, desde as questões raciais, como afetivas. Isso é bom, é válido.

    Beijos

    Resposta

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