Resenhas

Resenha: Juvenília, de Jane Austen e Charlotte Brontë

85075_ggNome do livro: Juvenília
Nome Original: The Juvenilia
Autor(a): Jane Austen e Charlotte Brontë
Tradução: Julia Romeu
ISBN: 9788563560919
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2014
Páginas: 472
Nota: 4/5
Onde Comprar: Compare Preços

À primeira vista, Jane Austen e Charlotte Brontë parecem radicalmente opostas. Austen representa a elegância e a proporção neoclássica, parodiando excessos literários e criticando as fraquezas humanas. Brontë, por sua vez, imprime em sua escrita toda a paixão e a extravagância do espírito romântico, não raro com forte influência da fantasia. Numa época em que a literatura popular era considerada perigosa para a mente das jovens, a erudição precoce, a originalidade e a liberdade de espírito aproximam essas duas autoras. Ambas tinham como personagens centrais mulheres, sendo responsáveis pelos retratos mais marcantes de lealdade e dedicação feminina da literatura inglesa. E ambas constroem as suas heroínas como produtos do condicionamento feminino da época, cujas expectativas sociais eram muito restritas. Austen e Brontë tiveram uma produção bastante fértil na juventude, reunida neste livro, a qual parece encontrar uma espécie de equilíbrio no conflito entre a moral individual e social, criando heroínas complexas que se destacam por sua coragem e independência.

“Pode-se dizer que Jane Austen é a personificação da elegância e da proporção neoclássica; Charlotte Brontë, por outro lado, representa toda a paixão e a extravagânica do espírito romântico(…)”
(Introdução de Frances Beer)

Caso você leitor não conheça a obra de Jane Austen ou Charlotte Brontë, este não é um livro recomendado para começar, já que aqui estão fragmentos da obra da juventude de ambas – muitos inacabados – e não é a melhor leitura para conhecer as autoras. Este é um livro mais para estudo da evolução literária do que para entretenimento.

As primeiras páginas de Juvenília trazem a introdução escrita por Frances Beer e nos situa no mundo em que as autoras viveram e fazem com que entendamos um pouco mais sobre elas. Ambas tinham acesso livre aos livros através das bibliotecas de seus pais, algo raro para a época, onde as moças eram incentivadas somente a aprender trabalhos domésticos e preparar-se para o casamento. O incentivo ao crescimento de seu intelecto gerou frutos visíveis hoje, onde poucas autoras da época são consideradas clássicas, entre elas as outras irmãs de Charlotte: Anne e Emily Brontë.

Jane Austen, mesmo em sua juvenília (escrita até seus dezoito anos), demonstra a sua paixão pelas relações humanas, onde sempre as pessoas estão em evidência e não os acontecimentos ao seu redor. É possível ver o sarcasmo utilizado em suas novelas publicadas, porém de maneira menos sutil que a utilizada em suas novelas completas, como no trecho abaixo:

“O corpo perfeito, o rosto lindo e os modos elegantes de Lucy conquistaram de tal forma a afeição de Alice que, quando as duas se separaram, o que ocorreu apenas após o jantar, a segunda assegurou à primeira que, com exceção de seu pai, seu irmão, seus tios, suas tias, seus primos e outros parentes, de Lady Williams, Charles Adams e mais algumas dúzias de amigos íntimos, ela a amava mais do que a quase qualquer outra pessoa no mundo.”

A maioria dos textos presentes neste livro estão inacabados, seja porque a autora o descartou ou porque não teve tempo de terminá-lo. Alguns dos textos que estão finalizados, apesar de mostrarem-se mais infantis, tem retratados vários defeitos humanos como a vaidade, a hipocrisia e o superficialismo. Charlote Brontë mostra textos mais elaborados em sua juvenília, como a criação do reino de Angria, onde a maioria de seus textos se passa. Os personagens são descritos com minusciosidade e depois inseridos em várias histórias, com as mais variadas situações. Aqui a autora utiliza e aperfeiçoa seus personagens gradualmente e, apesar de desconexas, as historias acabam se completando para fazer-nos conhecê-los melhor. Aqui não é julgada a moral dos personagens e sim relatados os fatos que os levaram a tais ações – bem ao contrário de Jane Austen, onde a moral está sempre em pauta.

A edição da Companhia das Letras faz parte da coleção de clássicos da Penguin, ou seja, é uma edição de capa simples, sem orelhas, mas com as páginas em folhas amareladas. A revisão é impecável, sem erros de português ou digitação. É evidente na edição a preocupação em deixar a obra clara ao entendimento do leitor pela tradução e organização dos textos das autoras. Há várias notas sobre os textos no final do livro e na introdução a obra é esmiuçada de forma a exaltar a genialidade das autoras em sua juventude.

A leitura é recomendada para aqueles que já são fãs das obras das autoras e tem vontade de conhecer a sua evolução através de textos guardados não para a publicação e sim para o próprio deleite ou de seus familiares.

 

 

Franciely

É estudante de Letras por falta de melhor opção (já que não se pode ser somente estudante de literatura), leitora por prazer, amiga dos animais, viciada em internet e resenhista porque gosta de experimentar coisas novas.

2 thoughts on “Resenha: Juvenília, de Jane Austen e Charlotte Brontë

  • Oi Fran!
    Embora não tenha lido toda a obra de Jane Austen, gosto muito do que li. Charlotte Brontë, por outro lado, ainda não conheço (shame on me).
    Quando vi esse livro, fiquei na dúvida sobre o tipo de leitura que eu encontraria e decidi esperar para ler algumas resenhas para então me decidir. A sua foi bastante esclarecedora. Vou esperar conhecer um pouco mais da obra da Charlotte e aí, então, ler “Juvenília”.
    Beijos
    alemdacontracapa.blogpsot.com

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    • Pois é, a Charlotte eu tb nao conhecia hahahaha Eu tenho Jane Eyre para ler mas ainda nao consegui…

      Resposta

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