Resenhas

Resenha: Mundo novo, por Chris Weitz

MUNDO_NOVO_1412107524PNome do Livro: Mundo novo
Nome Original: The Young World
Série: Trilogia Mundo Novo
Autor(a): Chris Weitz
Tradução: Álvaro Hattnher
Editora: Seguinte
ISBN: 9788565765473
Ano: 2014
Páginas: 328
Avaliação: 4/5
Onde Comprar: Compare Preços

Neste mundo novo, só restaram os adolescentes e a sobrevivência da humanidade está em suas mãos. Imagine uma Nova York em que animais selvagens vivem soltos no Central Park, a Grand Central Station virou um enorme mercado e há gangues inimigas por toda a parte. É nesse cenário que vivem Jeff e Donna, dois jovens sobreviventes da propagação de um vírus que dizimou toda a humanidade, menos os adolescentes. Forçados a deixar para trás a segurança de sua tribo para encontrar pistas que possam trazer respostas sobre o que aconteceu, Jeff, Donna e mais três amigos terão de desbravar um mundo totalmente novo. Enquanto isso, Jeff tenta criar coragem para se declarar para Donna, e a garota luta para entender seus próprios sentimentos – afinal, conforme os dias passam, a adolescência vai ficando para trás e a Doença está cada vez mais próxima.

 

Chris Weitz tem excelentes credenciais ao lançar seu primeiro livro: um Oscar de Melhor roteiro adaptado em 2002 por O grande garoto (adaptação de um livro de Nick Hornby) e a direção de superproduções como o polêmico “A bússola de ouro” e “Crepúsculo: Lua Nova”. Em seus projetos futuros está a adaptação para cinema de uma provável trilogia para ao personagem Elric de Melniboné, herói lendário criado por Michael Moorcock nos anos 60. O segundo volume da série “Novo mundo”, ainda sem título, deve ser lançado nos EUA em julho de 2015.

Nas primeiras páginas (e na excelente capa brasileira) já percebemos que “Mundo novo” está pronto para outras mídias, como cinema, quadrinhos e até jogos. Os capítulos são narrados em primeira pessoa, alternando entre os protagonistas Jeff e Donna, cada um com seus maneirismos de escrita e limitações de vocabulário.

“Crânio (gênio do crime)
Donna (garota poderosa ligeiramente desequilibrada)
Peter (gay cristão viciado em adrenalina)
E eu (rei filósofo nerd)
Não é exatamente a sociedade do Anel…” (pág. 52)

Na trama, uma doença mortal atingiu adultos e crianças pequenas deixando vivos apenas os adolescentes. A partir do paciente zero em Nova York, a doença se espalhou para todo o mundo conhecido pelos jovens – essa era a informação que tinham até que a energia elétrica parou de funcionar e todos começaram a viver isolados, sem saber o que está acontecendo no resto do mundo.

A narrativa começa com um pequeno grupo ilhado em Washington Square, vivendo durante o último ano com uma pequena horta e saqueando alimentos nos imensos prédios abandonados ao redor. Contato com pessoas de fora do grupo são raros e hostis, toda a ilha de Manhattan foi dominada por grupos violentos, que criavam suas próprias regras.

Aos jovens que sobreviveram não falta rebeldia, fúria, ganância, medo e vontade de viver. Mesmo após o fim da civilização alguns ainda se apegam a pequenos confortos e comodidades do passado, agora completamente inadequados, ultrapassados ou apenas inúteis. Por exemplo: um banho quente hoje em dia é algo cotidiano e passa despercebido, enquanto uma capa nova do iPhone é alvo de cobiça. Sem energia elétrica e com mais da metade da população de uma cidade morta, não faltam capinhas, mas um banho quente de chuveiro é tão raro quanto um projétil de calibre 50.

Todo o processo de decomposição da civilização é analisado racionalmente, com abordagem de alguns aspectos inusitados – como o surto de libertinagem entre os adolescentes, afinal todos sabiam que iam morrer em torno dos 18 anos e não havia mais a vigilância dos adultos e das autoridades. Com o tempo, até as piadas de humor negro começam a cansar (a melhor delas é responder “procura no google” quando alguém faz uma pergunta).

Usando os melhores trunfos da ficção científica pós-apocalíptica, Chris Weitz deixa bem claras a influência da literatura para criar esse cenário de desolação e acerta ao não tentar apresentar sua ideia como nova ou revolucionária – ao contrário dos personagens, você pode usar o google e rapidamente achar origem das centenas de referências literárias e de cultura em geral. O gancho final para aguardar o segundo volume não é dos mais elaborados, mas tem mistério o bastante para que o leitor elabore diversas teorias contraditórias. Assim como o livro já está pronto para virar filme, é possível que você já tenha visto o final em algum filme.

“Mesmo quando o Ocorrido começou, tudo em que eu conseguia pensar era ‘Isso é como Contágio’, e depois ‘Isso é uma mistura de O senhor das moscas e Jogos Vorazes’” (pág. 127)

A capa brasileira, fico feliz em dizer, é muito superior à original. Com ilustração digna de quadrinhos violentos, cores berrantes e título em reprodução de pichação, chama imediatamente a atenção em qualquer livraria e seria fácil de acreditar que é uma graphic novel. A revisão é excelente, nenhum erro de digitação. Tenho apenas uma reclamação: na página 195 há um trecho da letra de uma música reproduzida no original em inglês. Falta uma tradução, mesmo que pequena no rodapé, já que na trama ao ouvir a letra Donna fica emocionada. Sem tradução, o leitor que não conhece o idioma tem que adivinhar seu significado.

Nos EUA a capa é comum e desatualizada a ponto de ser brega, além de não refletir a rebeldia da obra, apela para um patriotismo que não existe no livro:

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Altamente indicado para os fãs de distopias, “Mundo novo” merece destaque pela visão sarcástica que apresenta de nossa sociedade e nossos valores, reflete a desolação e o isolamento que os jovens sentem do restante da sociedade e nos mostra como eles estariam irremediavelmente perdidos sem a referência da civilização, tentando desesperadamente se agarrar ao que o mundo de Antes tinha de pior.

Jairo Canova

Jairo Canova é Administrador e gosta de livros mais do que imagina.

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