Resenhas

Resenha: Os Enamoramentos, por Javier Marías

Nome do livro: Os Enamoramentos
Autor(a): Javier Marías
ISBN: 9788535921533
Páginas: 344
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2011
Avaliação: 4/5
Onde Comprar: Compare Preços

María Dolz, uma solitária editora de livros, admira à distância, todas as manhãs, aquele que lhe parece ser o “casal perfeito”: o empresário Miguel Desvern e sua bela esposa Luisa. Esse ritual cotidiano lhe permite acreditar na existência do amor e enfrentar seu dia de trabalho. Mas um dia Desvern é morto por um flanelinha mentalmente perturbado e María se aproxima da viúva para conhecer melhor a história. Passa então de expectadora a personagem, vendo-se cada vez mais envolvida numa trama em que nada é o que parecia ser, e em que cada afeto pode se converter em seu contrário: o amor em ódio, a amizade em traição, a compaixão em egoísmo. A história, narrada em primeira pessoa por María, sofre as oscilações de seus estados de espírito, de seus “enamoramentos”, evidenciando que todo relato é tingido pela subjetividade de quem conta. Ao mesmo tempo, a presença incômoda dos mortos na vida dos que ficam é o tema que perpassa este romance, à maneira de um motivo musical com suas variações. Para desdobrar e reverberar esse mote, Javier Marías entrelaça a seu enredo referências a obras clássicas da literatura como Os Três Mosqueteiros, de Dumas, Macbeth, de Shakespeare, e, sobretudo, o romance O Coronel Chabert, de Honoré de Balzac, incluído como presente ao leitor nesta edição. Sustentando com maestria uma voz narrativa feminina, o autor eleva aqui a um novo patamar sua habilidade em nos envolver no mundo interior de seus personagens. Com Os enamoramentos, obra de plena maturidade literária, Javier Marías se reafirma como um dos maiores ficcionistas de nossa época.

Os Enamoramentos foi um livro que me ganhou pelo título, que nome eloquente  deve ser uma história de amor dos mais clichês possíveis, isso pensei eu, e como adoro os amores clichês, me pus a lê-lo! Conhecemos a princípio o jovem Maria Dolz, que por volta dos seus trinta e poucos anos, trabalha em uma editora em Madri e cumpre o ritual de tomar o café da manhã em uma cafeteria próxima ao seu trabalho, todos os dias.

 O ritual do café da manhã de María consiste também em observar um casal que faz as refeições matinais no mesmo café, Miguel Desvern ou Devern e sua esposa Luíza são para Maria uma espécie de amuleto da sorte. Um casal que a editora observa e se pões a imaginar como são felizes aqueles dois que se escolheram para amarem-se por toda a vida, então se Maria não os vê durante o seu café da manhã, o seu dia não vai bem. Eles quase nunca se falam a não ser um breve aceno de cabeça, ou um bom dia quase mudo.

 “Nunca conseguimos estar seguros do que vai nos ser vital nem a quem vamos dar importância. Nossas convicções são passageiras e frágeis, até as que consideramos mais fortes. Nossos sentimentos também. Não deveríamos confiar neles.” (p.100).

O senhor Desvern sempre sai um pouco mais cedo, se despede de Luiza com um beijo singelo e a deixa no café, porém, da última vez que Luiza viu o marido, foi também a última vez que Maria o viu. Ele fora assassinado com 15 facadas, por um mendigo que o acusava de ter colocado as filhas no caminho da prostituição. Luiza só fica sabendo do acontecido dias depois, e ao voltar no café encontra Luíza que a convida para um chá em sua casa. Lá elas conversam ainda e, consternada pela perda do marido, Luiza confessa que também o casal observava Maria, e faziam suposições as seu respeito, da mesma forma que Maria fizera com o belo casal. Nesse rápido encontro Maria é apresentada a Javier, um velho e melhor amigo de Miguel que agora estava dando todo apoio para a viúva.

 A trama se desenrola a parte desse encontro. A forma como o autor desenvolve a história é incrivelmente surpreendente. Maria deixa de ser uma mera observadora do casal e passa a ver por dentro as relações, conhecer as minúcias da morte de Miguel Desvern e o nome do livro não se justificou pelo que eu imaginava que fosse, e aí ta a grande surpresa para mim, do livro. As discussões filosóficas que envolvem a morte, a volta dos mortos, o lugar dos mortos nas relações, o que fazemos ou vemos por causa do enamoramento. Todo esse debate se dá permeado por referências literárias, que na visão de um dos personagens, justificam todos os meios para um fim maior. Os três mosqueteiros, MacBeth e O Coronel Chabert, este último inclusive acompanha esta bela edição, são usadas a todo o momento para justificar os fins.

 “Nada mais tentador do que se entregar a outro, mesmo que só com a imaginação, e fazer nossos os seus problemas e submergir em sua existência, que por não ser nossa é por isso mesmo mais leve.” (p. 149).

 O livro tem também um ponto baixo, que eu não achei que necessário que fosse dessa forma. Por muitas vezes os personagens se reportam a fatos já narrados, como uma forma que lembra ao leitor o que foi dito anteriormente e eu achei isso um tanto cansativo na leitura. A escrita do Javier é incrivelmente fluida e chega a ter uma cadência bem gostosa, como se vocês estivessem lendo uma poesia, ou uma música. A trama me deixou muito curiosa pra chegar ao final e descobrir como teria fim essa história de que envolve amor, amizade, paixões controversas, ciúme, egoísmo e compaixão. O livro tem uma temática mais adulta, não quero dizer que seja impróprio para menos, só acho que é preciso um pouco mais de maturidade pra se entender tudo o que tratado no livro. Para quem gosta de entender os conflitos humanos, é um prato cheio.

Boa leitura!

6 thoughts on “Resenha: Os Enamoramentos, por Javier Marías

  • Eu simplesmente amei esse livro. Adorei o enredo dele e como vc mesmo diz, não é um livro tão fácil de ler. Mas ao mesmo tempo é gostoso. Senti falta de mais dialogos. E o Cel. Chabert também amei.
    Beijos
    Adriana

    Resposta
  • Gladys Sena

    Fiquei interessada, não conhecia esse livro.

    Gosto de tramas que envolvem os dramas do cotidiano e esse livro parece que está recheado deles, 🙂

    Bjo.

    Resposta
  • Clara

    Não gosto muito de livros deste tipo, prefiro um livro que tenha aventura ou fantasia, porém acho que eu leria este livro.

    Resposta
  • Paula Camargo

    Realmente o título me ganhou também,eu sou uma apaixonada pela cultura e estória da Espanha,acho que leria sim esse livro e me encantaria pelo romance!

    llivroseletras.blogspot.com

    Resposta
  • barbara

    achei bem iteressante a resenha, fiquei com vontade de ler

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.