Resenhas

Resenha: Sexo e Religião, de Dag Øistein Endsjø

sexo_e_religiaoNome do Livro: Sexo e Religião, do baile das virgens ao sexo sagrado homossexual
Nome Original: Sex og Religion — Fra jomfruball til hellig homosex
Tradução: Leonardo Pinto Silva
Autor(a): Dag Øistein Endsjø
ISBN: 9788581302294
Páginas: 376
Editora: Geração Editorial
Ano: 2014estrelas 1 - Cópia - Cópia - Cópia - Cópia
Avaliação: 
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Dag Øistein Endsjø é um estudioso norueguês fascinado pela história de nossa civilização. Neste livro, que já foi traduzido para sete idiomas, ele traz um estudo extenso e provocante sobre a variedade de concepções religiosas sobre a sexualidade.
Partindo das grandes religiões – o Cristianismo, o Judaísmo,o Hinduísmo, o Islamismo e o Budismo – e estendendo-se às seitas modernas e religiões extintas, ele desvenda a moral sexual presente em cada uma dessas cosmovisões.
O livro aborda, com base nos textos religiosos e registros históricos, temas polêmicos como a homossexualidade, o estupro, o incesto, a prostituição, a masturbação e a pedofilia.

 

É admirável a ousadia de Dag Øistein Endsjø em escrever um livro sobre a relação entre dois temas que, mesmo separadamente, são polêmicos e envolvem tantos tabus. O texto é basicamente sobre religião comparada, trazendo dados sobre as principais religiões atuais – católica, islâmica, judaica, budista e hindu – e como cada uma delas aborda a sexualidade desde sua fundação, as alterações que ocorreram durante a Idade Média e principalmente após a revolução sexual de 1960-70 a partir de quando os dados são muito mais concretos, baseados em pesquisas sociológicas.

Frequentemente o autor tem um tom ácido ao apontar contradições, o que é inevitável dada a natureza do assunto que ele escolheu para discorrer. Os parágrafos finais dos capítulos são pérolas que sintetizam a visão do autor, expõem toda a hipocrisia religiosa sem nunca perder o foco da argumentação lógica. A base para a pesquisa do autor foram os textos sagrados de cada religião, as proibições e indicações expressas que cada um contém e como ao longo da história diferentes figuras de influência distorceram os ensinamentos dos textos sagrados para a própria conveniência, até chegarmos ao atual panorama em que basicamente todas as religiões condenam algum tipo de atividade sexual, tornando impossível que o indivíduo viva corretamente dentro de mais de uma crença.

A indignação latente que persiste durante todo o livro é basicamente sobre o tratamento dado aos homossexuais e a repressão da sexualidade feminina. A homossexualidade ganha um capítulo inteiro para ampla discussão. Frequentemente ao abordar as liberdades sexuais concedidas aos homens tem-se uma pequena brecha para dizer que as mulheres não tem os mesmos privilégios, por exemplo quando são citados os bailes de castidade promovidos atualmente são as filhas que são levadas pelos pais para prometerem a virgindade até o casamento, não os filhos.

O autor fez excelentes escolhas para a divisão dos capítulos, permitindo que basicamente todos os pontos de vista sejam abordados sem repetições: primeiro ele delimita o que é religião e quais serão mais pesquisadas para o livro, depois o que é considerado sexo (já que diferentes culturas consideram algumas práticas como sexuais e outras não, dependendo de quais indivíduos e quais orifícios estejam envolvidos), seguindo então para as pessoas que escolhem a abstinência, o sexo solitário (masturbação), como a heterossexualidade é tratada, como a homossexualidade é vista, o racismo (permissão ou discriminação do sexo entre pessoas de diferentes etnias), sexo de outro mundo (relações de deuses entre si, de deuses com humanos e de humanos após a morte), as consequências do sexo, o sexo em rituais religiosos e como as religiões priorizam a conduta sexual.

O capítulo sobre “O uso sagrado do sexo” é um dos mais interessantes da obra, focando como várias religiões diferentes ao redor do mundo utilizaram o sexo como uma ferramenta sagrada, muito antes da cultura ocidental predominantemente patriarcal e cristã demonizar qualquer prática sexual de cunho religioso. O ocultista inglês Aleister Crowley é rapidamente citado nesse capítulo, até hoje uma das pessoas mais influentes na cultura ocidental. Chama a atenção que a sexualidade vista por Crowley é explicada em termos vagos pelo autor na página 306 e é muito semelhante a opinião que o próprio autor expressa nas conclusões  pouco depois. A religião de Thelema criada por Crowley tem duas máximas: “Faze o que tu queres pois é tudo da Lei” (essa tradução foi cantada por Raul Seixas na música “Sociedade alternativa”,) e “Amor é a Lei, amor sob vontade”. Enquanto que nas “Considerações finais” Dag Øistein Endsjø cita:

 

“[…] estabeleceremos três princípios parar nortear não apenas as ideias sexo-religiosas, mas toda a sexualidade humana: livre-arbítrio, consentimento e respeito mútuos. A cada indivíduo deve ser assegurado o direito de decidir até que ponto irá ou não ser governado por códigos de conduta sexo-religiosa.” Página 338

 

Interessante observar que ao escrutinar as grandes religiões o autor tenha encontrado profundas contradições na inter-relação que cada uma delas tem com o sexo, mas foi em uma obscura religião criada a pouco mais de 100 anos e publicamente criticada pela liberdade sexual de seus participantes que Dag Øistein Endsjø se identifica para cunhar conclusões que tem como base o respeito aos direitos humanos e o livre-arbítrio.

A edição lançada pela Geração editorial para este livro é excelente, de tamanho confortável para ler, fonte grande, papel de qualidade (com folhas muito grossas, frequentemente achei que estava virando mais de uma folha, mas era apenas a grossura do papel). Não encontrei erros de digitação, o que é sempre um extra. O texto vai até a página 345, dali em diante são apenas as referências bibliográficas e como muitas delas estão disponíveis on-line é muito fácil conferir o material original da pesquisa.

Recomendo a leitura para quem está aberto a novas ideias e discussões. Prender-se a velhas concepções e crer cegamente no que dizem os líderes religiosos só irá provocar raiva ao leitor que tiver uma mente limitada e insistir nessa leitura.

Jairo Canova

Jairo Canova é Administrador e gosta de livros mais do que imagina.

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