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Resenha: Te Vendo Um Cachorro, de Juan Pablo Villalobos

TE_VENDO_UM_CACHORRO__1439494536521396SK1439494536BNome do Livro: Te Vendo Um Cachorro
Nome Original: Te Vendo Un Perro
Autor: Juan Pablo Villalobos
Tradução: Sérgio Molina
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9788535926316
Páginas: 248
Ano: 2015
Nota: 5+/5
Onde Comprar: Amazon

Aos 78 anos, Teo se muda para um prédio decadente cheio de anciãos. Passa os dias ouvindo as fofocas nos corredores, nutrindo desejos eróticos pela síndica e calculando quantas cervejas pode beber por dia às custas de um pecúlio que deve durar até sua morte.

O grande evento do prédio é uma tertúlia literária: os participantes se impõem o desafio de ler os sete tomos de Em busca do tempo perdido, intercalando Proust com aulas de modelagem e ginástica aeróbica.

Com este romance, Juan Pablo Villalobos encerra a trilogia sobre o México iniciada com Festa no covil. Mais afiado do que nunca, o autor debruça-se sobre a velhice, o cotidiano e a literatura para tecer uma crítica sagaz sobre a vida em sociedade.

Te Vendo um Cachorro é um livro espetacular com um narrador-personagem sarcástico que intercala o presente e passado. Sem subestimar a inteligência do leitor e ao mesmo tempo tendo uma fluidez narrativa de fácil compreensão, o livro aborda várias temáticas relevantes de maneira bem humorada sem jamais cansar quem está lendo.

Teo é o personagem principal e narrador da história. Conforme os eventos do livro se desenrolam é possível ter uma visão geral do tipo de pessoa ele é, porém ao terminar a leitura eu ainda fiquei com a sensação de não tê-lo compreendido completamente. Com 78 anos e sem nenhuma perspectiva para o futuro a não ser morar nesse prédio chamado de “o prédio dos velhinhos” e poder beber o quanto quiser com o dinheiro que lhe resta até a sua morte, é de se esperar que o personagem não fosse tão engraçado como ele é. Teo jamais chama as pessoas pelos seus verdadeiros nomes, ele cria pseudônimos para elas e, ignorando as veementes reclamações, segue chamando-as como quer. Ele tem verdadeira aversão pelos pseudo-intelectuais do prédio que passam seus dias com a cara enfiada nos livros ao invés de aproveitarem seus últimos anos de vida para de fato viverem. Rebate Proust ou a bíblia com A Teoria Estética. Acredita que cachorros podem muito bem ser recheio de tacos tanto quanto as galinhas.

O universo de “Te Vendo um Cachorro” mostra as dificuldades da idade avançada, a hipocrisia das pessoas, sonhos não realizados e hordas de baratas. Tudo com muito bom humor. Como os moradores do prédio pensam que Teo está escrevendo um romance – mesmo que ele diga que não – a síndica do prédio e líder do clube do livro (chamado de tertúlia literária) fica tentando lhe dar dicas de escrita. Uma cena muito interessante é quando ela tenta instruir o narrador quanto a “literatura de experiência”, que obriga a pessoa a escrever somente sobre aquilo que vivenciou e Teo fica conjecturando que as pessoas vivenciam muito mais coisas do que acham, mas se elas não sabem que viveram determinada situação por ignorância, vão acabar não podendo escrever sobre ela nesse tipo de literatura.

“E então, quando parecia impossível que acontecesse mais alguma coisa, tudo virou de ponta-cabeça, como se um engraçadinho tivesse mudado as coisas de lugar e de repente houvesse meias de náilon na geladeira, lâmpadas queimadas embaixo do travesseiro, as baratas lessem o Tempo Perdido, os mortos se cansassem de estar mortos e o passado já não fosse como antigamente.” (pág 124)

As personagens são cativantes, a narrativa é fluída, rápida e divertida, sem deixar as alfinetadas de lado. A capa do livro está linda, em azul e preto na frente e laranja e branco atrás. Os desenhos da capa fazem todo o sentido com a história. A revisão está perfeita. No final do livro tem uma nota do autor garantindo que todos os cães da história são fictícios.

O autor deixa clara a mensagem de que nem todos alcançam a grandiosidade na vida, mas isso não quer dizer que não sejam grandes pessoas ou que não tenham nada de especial, mas somente que está é a vida e ela não é um romance, por isso não é tão simples de explicar (pág 228). Recomendo a leitura a quem não tem medo de sair de sua zona de conforto nos livros e arriscar leituras diferentes. Garanto que vale a pena.

Franciely

É estudante de Letras por falta de melhor opção (já que não se pode ser somente estudante de literatura), leitora por prazer, amiga dos animais, viciada em internet e resenhista porque gosta de experimentar coisas novas.

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