Resenha: As Esganadas – Jô Soares
Autor(a): Jô Soares
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9788535919752
Ano: 2011
Avaliação: 5/5
Número de Páginas: 264
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Na TV, “O Gordo” sempre vem nos deliciando com sua comédia de peso. Como autor, nada melhor e mais engraçado do que ele para escrever uma tragicomédia sobre…bem… gordas. Seu thriller é ambientado no Brasil do Estado Novo, final dos anos 30, e possui uma mistura de personagens fictícios com outros reais que mais parecem ter saído das páginas dos livros de história e literatura: presidente Getúlio Vargas, Filinto Müller (político e militar, chefe da polícia do Rio de Janeiro), Adolf Hitler, Fernando Pessoa (poeta português), Aleister Crowller (ocultista inglês) e, até mesmo, uma breve participação da dramaturga mineira Ana Maria Machado, fundadora da famosa escola de teatro Tablado que, na passagem, aparece ainda criança.
As Esganadas possui um diferencial em relação a outros livros de serial killers. Logo no primeiro capítulo, o assassino é revelado e isso faz com que o leitor se torne um cúmplice de suas ações. Ele é Caronte, jovem proprietário da funerária Estige. Aqui, percebe-se uma nítida referência à mitologia grega. O criminoso é chamado assim numa homenagem ao barqueiro que carrega almas pelas águas do rio que divide o mundo dos vivos do mundo dos mortos e dá nome àquela empresa.
Caronte tem aparência grotesca: é extremamente magro, muito branco, restam-lhe poucos dentes (que o obriga a usar uma dentadura) e mínimos fios de cabelos. O vilão tem como vítimas moças da alta sociedade carioca que são bonitas, formosas e gordas. Como no mito de Édipo, o assassino possui fixação na imagem da mãe, uma mulher opressora de origem portuguesa que o culpa por seus quilos a mais, adquiridos durante a gravidez. Ela adora cozinhar doces e salgados típicos da “terrinha” lusitana, porém, não permite que o filho os saboreie, pois não quer vê-lo com uma silhueta idêntica à sua. Amor e ódio dedicados à mãe remetem o leitor a mais uma referência, agora, cinematográfica. Caronte muito se assemelha a Norman Bates, de Psicose, filme clássico de Alfred Hitchcock.
Apresentado o perfil físico e psicológico do antagonista, bem como suas motivações para cometer os crimes, as páginas seguintes são recheadas de situações cômicas que envolvem os outros personagens fictícios da trama. Estes, por sua vez, são os investigadores do caso das Esganadas: Mello Noronha é o delegado reclamão, comandante das investigações; inspetor Valdir Calixto é o seu assistente malandro, medroso e trapalhão. A dupla de policiais ganha, literalmente, um forte reforço quando Tobias Esteves, um gordinho ex-detetive de Lisboa e agora dono de uma confeitaria portuguesa no Rio, se prontifica para ajudar no caso, já que possui enorme conhecimento sobre assassinatos e culinária portuguesa. Enquanto estavam num restaurante, o trio conhece Diana de Souza Talles, repórter e fotógrafa da revista O Cruzeiro que passa a acompanhá-los na busca frenética e divertidíssima do assassino.
O ponto chave dessa tragicomédia está em como Caronte será desmascarado e a atenção do leitor é conquistada pela frustração, já que muitas vezes poderá se indignar com as trapalhadas do quarteto que os impedem de descobrir a verdade.
O único incômodo que encontrei em As Esganadas foi a sua leitura arrastada por razão do detalhamento demasiado na descrição das situações e do vocabulário rebuscado, cuja utilização é justificada para se assemelhar à época em que se passa a situação. Porém, isso é levado em consideração quando nota-se a beleza do trabalho de Jô Soares que levou cerca de 1 ano e meio na construção da obra, pesquisando os acontecimentos verídicos do Rio de Janeiro da década de 30.
Por fim, recomendo a leitura de As Esganadas, parafraseando Luis Fernando Veríssimo, responsável pelo texto de apresentação do livro:
E não se esqueça: agora, é com você. Comente! 😉
Um abraço,
Nídia Mendes.
Fonte dos vídeos: Companhia das Letras
Nídia Mendes – É publicitária, pós-graduada em design gráfico, adora pop art, livros, cinema, séries de TV e British Rock. Também é fanática por Coca-Cola e Converse All Star.
Nossa, eu não imagina que esse livro também tinha um pouco de comedia. Nunca tinha lido nenhuma resenha dele. a sua resenha ficou ótima. Agora quero logo ler esse livro.
Até mais !!
Não li nenhum livro do Jô ainda, mas esse eu estava muito a fim de ler.
Deve ser muito bom!
Está na minha listinha! 😀
Logo quando vi que esse livro era do Jô imaginei algo de comédia… Mas só depois tive noção de qe também era serial killer. A capa do livro ficou bem legal e o livro tem uma boa história.
Obrigada pelo elogio, Davi! 😉
Com certeza, você irá se impressionar ao ler As Esganadas.
Que bom que As Esganadas agora faz parte da sua lista, Lorrine!
Você vai adorar a leitura. 🙂
Oi, Karolyne!
A capa também foi o que mais me chamou a atenção para querer ler As Esganadas.
E o conteúdo do livro também não vai lhe decepcionar. 🙂
Não gostei muito da capa…Talvez por que não entendi direito, mas quem sabe depois de ler o livro…
Nunca li nenhum livro do autor, mas já ouvi falar…
Achei bem interessante, mas não a ponto de ir para minha meta de leitura de 2012.
Bjos
Tenho muita vontade de ler algo do Jô. E quando vi que esse livro seria lançado, decidi que minha primeira leitura deste excelente ator/apresentador será "As esganadas". Depois que li sua resenha, essa curiosidade se intensificou. E querooo! *-*
Bjs