CinemaEspeciais

Artigo | Mostra de Tiradentes

Mostra de Cinema de Tiradentes – Por que vale a pena?

Por Rafael Assis

Neste texto quero falar ao expectador médio, que não costuma frequentar festivais. Sendo direto, o cinema brasileiro vive uma boa fase. A despeito das birras ideológicas e das mudanças na estrutura do mercado cinematográfico que se avultam no horizonte, emplacamos um candidato ao Oscar e uma ótima citação na Cahiers du cinema. Quem rodasse os festivais de cinema que pipocam no país em 2019 talvez pudesse receber essas notícias com mais familiaridade. Eventos como a Mostra de Cinema de Tiradentes, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro ou o Cine PE se juntaram ao eixo Rio-SP e ao tradicional Festival de Gramado como um termômetro dos rostos e temas que significarão o cinema brasileiro nos anos que os seguem.

Este ano, mais uma vez pude acompanhar a Mostra de Cinema de Tiradentes e vou contar como foi e dar algumas pequenas dicas do que esperar em 2020 e como escapar do monopólio das comedias globais – afinal, nosso cinema vai muito além disso.

A experiência de acompanhar a Mostra de Cinema de Triadentes

Frequentar festivais é fugir da lógica do cinema comercial. Algumas vezes fugir até demais. O cinema experimental e as referências artísticas mais amplas dos realizadores geram obras que são muito diferentes do que se encontra num shopping num fim de semana. Assim, ver esses filmes exige certo repertório que pode surgir como um impedimento. Junto da turma do cinema que me acompanhou na viagem, estava também o motorista da van que nos levou – Choque de Cultura, se precisar de umas férias pra um dos rapazes é só contratar o Zeus. Nos primeiros dias, tudo que ele tinha a dizer dos filmes era que estes não tinham história ou que ele não tinha entendido. No fim da viagem, conversando com ele percebi que os filmes dos primeiros dias deram maior capacidade para a compreensão dos últimos. Então, se achar chato… Não desista.

“Modo de Produção”, de Dea Ferraz, exibido durante a Mostra de Tiradentes, 2020

A relação entre realizadores e o público

Muito do afastamento que o público tem desses filmes vem da impressão de arrogância dos realizadores que é impressa nas obras. Outra grande parte é a falta de recursos, não por pouco estes fatores se relacionam. Assim, meu primeiro conselho é: Comecem pelos curtas. Muita coisa é feita por estudantes de cinema ou cineastas testando ideias, e há festivais de curtas e médias em todas as grandes cidades do país. Ver uma nova forma de cinema, assim como literatura ou teatro é questão de prática. É como aprender outra língua. Insiste que vai.

Outro conselho: Se gostarem de um realizador, acompanhem seu trabalho. É muito comum que filmes autorais tenham pouco acesso nas salas de cinema tradicionais. Algumas vezes esse acesso sequer existe. A solução é fazer pequenas exibições em mostras e cinemas de rua, normalmente mantidos por algum incentivo do Estado. Você não vai achar essa programação na Tv ou num trailer pago no Youtube. Siga seus realizadores favoritos e eles te dirão onde assistir seus projetos.

Por fim, não sejam chatos. A pluralidade é uma coisa maravilhosa que luta para se fazer presente. Seja nos corpos que se apresentam na tela – hoje muito mais diversos, com atores negros, indígenas e LGBTQ – ou nas formas de contar histórias. Aqui em baixo, vou colocar a lista dos vencedores da Mostra e insisto que procurem ver estes filmes, vão descobrir todo um novo universo de possibilidades.

CONFIRA OS PREMIADOS DA 22ª MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES

  • Melhor longa-metragem Júri Popular: Até o Fim (BA), de Glenda Nicário e Ary Rosa.
  • Melhor curta-metragem Júri Popular: A Parteira (RN), de Catarina Doolan.
  • Melhor curta-metragem pelo Júri Oficial, Mostra Foco: Egum (RJ), de Yuri Costa.
  • Melhor longa-metragem pelo Júri Jovem, da Mostra Olhos Livres, Prêmio Carlos Reichenbach: Yãmĩyhex – As Mulheres-espírito (MG), de Sueli Maxakali e Isael Maxakali.
  • Melhor longa-metragem da Mostra Aurora, pelo Júri Oficial: Canto dos Ossos (CE), de Jorge Polo e Petrus de Bairros.
  • Prêmio Helena Ignez para destaque feminino: Lílis Soares, diretora de fotografia.
  • Prêmio Canal Brasil de Curtas: Perifericu (SP), de Nay Mendl, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Vita Pereira.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.