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Crítica do filme “Dunkirk”

 

O som dos ataques reverbera e, em contraponto o silêncio do medo. O vazio da paisagem litorânea cheia de corpos, com e sem vida, acinzentada e fria, emite uma aura de desespero e solidão em meio ao caos da guerra que não cessa. Todos os que se encontram presos em Dunquerque almejam resistir a morte e voltar para casa. Em seus rostos são expressos cansaço, dores, desesperança e, das palavras escassas, sua ausência diz mais que o que as mesmas narram. Na juventude despedaçada, pelos jogos dos heróis que não saem de seus gabinetes, há resiliência a cada investida do inimigo. Eles resistem e, tentam a cada minuto, uma maneira de conseguir dar mais uma passo em direção a casa. Aguardam que guerreiros como eles venham trazendo socorro, se desesperam e burlam as regras, buscam o último suspiro de vida da maneira que for melhor e mais prática. Honram seus princípios de ajuda ao próximo e se unem naquele ambiente de generalizações, onde cabelos, uniformes e posturas transformam os diversos soldados em um só.

 

 

No céu a cumplicidade e amizade ordena a certeza daqueles homens de que eles, são a esperança de quem se encontra cercado. Aqueles homens manobram suas máquinas, desviando da vida dos que necessitam, os possíveis percalços de quase morte. Na água, a ajuda de civis, que sabem que da sua maneira podem ser úteis e enxergam naqueles sobreviventes mais valor do que eles podem acreditar. Em três linhas do tempo, somos levados a entender o que teria sido a semana, dia e/ou horas daqueles que presenciaram o cerco de Dunquerque.
Dunkirk (2017), drama de guerra, dirigido e escrito por Christopher Nolan, aborda as maneiras encontradas por combatentes de sobreviver a cada dia. Esses sobreviventes são humanos, logo, nem sempre são os heróis esperados, tomam decisões egoístas, acatam a ordens que não beneficiam a todos. Soldados britânicos e franceses em guerra com suas ideologias para entender o que é necessário para não ser mais um corpo boiando na praia.  Em sua direção e roteiro, ele nos dá a simplicidade dos dias em campo, demonstrada por expressões corporais e faciais dos presentes. É um filme silencioso, de diálogos falados, no qual suas melhores conversas são por meio dos olhares. As expressões me valeram mais que os discursos, que só reforçam o que há em cena, mas não se atem ao sentimento dos que são representados.

 

 

O diretor divide o tempo em terra, uma semana; água, um dia e; ar, uma hora. Todas essas sub-narrativas convergem para um mesmo ponto. Em alguns momentos é confuso entender qual sub-trama é paralela a outra, e o clima de constante apreensão, facilmente desvia a sua atenção, tornando assim, um pouco mais difícil alcançar esse entendimento de como os tempos se encaixam. A trilha de Hans Zimmer, presente e constante dando tom a ambientação, também é algo que em algumas situações, não condiz com o que nos é apresentado em cena. Senti em alguns momentos uma falta de tom entre o que ouvia e o que via, pois a mesma era acelerada em crescente e a cena sóbria . Seria essa a sensação de um soldado já tão desgastado? Ser alheio aos sons que se ampliam por ter tanto conflito em seu ser? Ficou pra mim a reflexão.
No geral, o filme me agradou. Tive dificuldades em entender algumas dinâmicas. Achei que a tal “reflexão filosófica” tão esperada parte mais de meu entendimento do que é uma guerra do que de uma troca entre o que Nolan diz e eu. Reconheço a qualidade do que ele nos deu. Considero outros dele melhores, mas não acho esse inferior aos bons que vi. Acho que os fãs precisam parar de por palavras na boca do autor, pois a fama dele de pretensioso, assim, não passará nunca.
Nota: 3,5/5

 

Yasmine Evaristo

Artista visual, desenhista, eterna estudante. Feita de mau humor, memes e pelos de gatos, ama zumbis, filmes do Tarantino e bacon. Devota da santíssima Trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch, sempre é corrompida por qualquer filme trash ou do Nicolas Cage.

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