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Crítica “Páginas de Menina” – #52FilmsByWomen

Páginas de Menina (2008)
Duração: 19 min
Direção: Monica Palazzo
Roteiristas: Monica Palazzo
Elenco: Vera Zimmermann, Tieza Tissi, Gilsamara Moura
Trilha Sonora: Martin Eikmeier, Bruno Palazzo
Direção de fotografia: Janice D’Avila
Edição: Rodrigo Diaz Diaz
Em 1955, Ingrid arruma um emprego na Livraria Machado de Assis e encontra Sílvia, uma mulher bonita que está na cidade por um tempo. Sua primeira afeição intelectual se torna emocional.

#2
O curta se inicia em 1955, na cidade de Araraquara. Um mulher sai de casa com uma carta na mão. A lendo, essa apresenta em seu rosto aparência de insatisfação com o que lê e suspira. Na cena seguinte, a jovem Ingrid (Tieza Tissi) está dentro de uma livraria, carregando alguns livros. ao chegar em casa, imersa em sua leitura, é interrompida pela mãe (Gilsamara Moura), que a convida para almoçar. Nessa conversa ela comenta que na livraria estão procurando ajudante e a mãe a sugere que se candidate a vaga.
Ingrid consegue a vaga e, com isso, se aproxima da Sílvia (Vera Zimmermann), designada para lhe ensinar o que for necessário para seu trabalho. Entre as duas surge, por meio da troca de conhecimento, um romance. A cada encontro as duas expressam em seus gestos e olhares seu desejo, uma pela outra.

O filme retrata uma relação lésbica, na época – com características muito atuais -, consumada em segredo. O medo de que esse envolvimento seja descoberto faz com que ambas sejam discretas com relação a intimidade delas. As escolhas feitas a partir da descoberta dessa atração, são pautadas no segredo a ser mantido. Percebemos em Páginas de Menina que há pessoas que precisam fugir constantemente de seus desejos para viver de acordo com as regras estabelecidas socioculturalmente.

A partir desse ponto, essa crítica contém spoilers
Silvia é a prova de como as pessoas sentem a necessidade de fugir, para se adequar ao que é definido como comportamento. Há uma cena em que a personagem, escreve uma carta, para uma mulher em Paris, justificando seu retorno ao Brasil e contando sobre sua rotina. Nela, Silvia diz que não pretende retornar tão cedo a cidade. Entretanto, não é o que acontece. Após consumar sua relação com Ingrid, sim estamos falando de sexo, esta foge da cidade.
A moça só descobre isso ao chegar em seu serviço e descobrir que se tornou a nova gerente da livraria. Desesperada ela corre até a pensão na qual sua amante mora e recebe uma carta na qual ela justifica seu retorno à Cidade Luz como um ato de “covardia e alívio”. Nessa carta ela também aponta que a situação das duas é delicada. Com isso, podemos afirmar que a união do casal é impedida pelo medo das discriminações que ambas sofreriam.
Por tratar de um assunto atual e por ser, mesmo em um formato com metragem menor, muito bem produzido, o curta merecia ser convertido em longa metragem. A ambientação e vestuário caracterizam bem o período e as atrizes são agradáveis em suas interpretações. A direção/roteiro de Monica Palazzo é delicada ao tratar do romance e não se priva de mostrar o carinho entre elas sem estereotipar ou vulgarizar a orientação sexual demonstrada.
Sensível e delicado, descobrir esse curta (indicado por um amigo) foi um bom caminho para me interessar por outros trabalhos da diretora. Mais informações sobre o curta aqui nesta página.

Assista ao curta aqui: 

 

Yasmine Evaristo

Artista visual, desenhista, eterna estudante. Feita de mau humor, memes e pelos de gatos, ama zumbis, filmes do Tarantino e bacon. Devota da santíssima Trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch, sempre é corrompida por qualquer filme trash ou do Nicolas Cage.

2 thoughts on “Crítica “Páginas de Menina” – #52FilmsByWomen

  • Luana Souza

    Um curta atemporal, é surreal vermos o quanto o preconceito ainda domina a nossa sociedade mesmo muitos anos depois. A fuga, o segredo, a infelicidade de não poder viver aquilo que se sente é infelizmente nosso retrato atual assim como no filme.

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  • Nathalia silva

    A sensibilidade em tratar sobre esse tema tão delicado e atual deve ser um dos fatores positivos neste curta. Ver como as escolhas são feitas com base nas opiniões de terceiros e o quanto isto afeta a vida do indivíduo é interessante e triste, até certa forma.

    Resposta

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