CinemaCríticasEspeciais

Crítica “Qual Queijo Você Quer?” – #52filmsByWoman

Qual Queijo Você Quer? (2011)
Duração: 11min
Direção: Cíntia Domit Bittar
Roteirista: Cíntia Domit Bittar
Elenco: Amélia Bittencourt, Henrique César

Margarete é uma senhora de idade que tem um súbito ataque de raiva quando seu marido, Afonso, pergunta se ela pode trazer um queijo da venda; o que acaba sendo a faísca para uma discussão de relacionamento

#5

Recomendo que a (o) leitor (a) assista ao curta, antes de ler a crítica. O vídeo está disponível ao fim do texto.

Em um ambiente carregado de elementos que representam a memória, se encontra um casal idoso. Sentados ao lado um do outro no sofá, Margarete (Amélia Bittencourt) e Afonso (Henrique César), estão cada um imersos em seus pensamentos. Então, uma pergunta trivial altera toda a calmaria existente.

Ao questionar a sua esposa se ela irá a venda e, se ela pode trazer para ele um queijo, ela tem uma súbita “crise existencial”. Margarete começa a questionar, que naquela altura da vida, tudo está perdido. Que seu tempo foi gasto da maneira oposta ao que eles tinham planejado, que as promessas de diversão e viagens não foram cumpridas e que ela se sente como alguém que “prestou” na vida apenas para reproduzir. Assustado com o rompante, Afonso não consegue responder as indagações e permanece sem entender o que se passa.

Por meio do diálogo entre as personagens a diretora, Cíntia Domit Bittar apresenta o saudosismo que carregamos. Entre as promessas feitas na juventude e o que elas se transformam ao longo da vida, existe um abismo, no qual os desejos se perdem. Diante das surpresas que surgem com as escolhas que fazemos, mudamos nossos cursos e, o casal parece ter se acomodado com as opções que lhes foram dadas.

A conversa entre eles situa bem os lugares sociais que cada um tem (no sentido de papeis estabelecidos culturalmente) sendo, o homem provedor e a mulher adjutora. O desabafo de Margarete tem o peso da idade, dos sonhos e da sensação de inutilidade. A velhice ali é estática ao ponto de parar o tempo, mas levanta a questão “foi o tempo ou fomos nós que paramos?”. Ceder ao comodismo e estatizar diante das mudanças da vida é dúbio. Ao mesmo tempo que traz a sensação de inutilidade, estabelece novas maneiras de felicidade.

O discurso que permeia a situação do casal em cena é composto do que deixamos de falar nos anos que passam. É a coragem de inovar que dissipa com a perspectiva de envelhecer. É a regra pré estabelecida e o argumento de que nossas escolhas são seguidas de ações que não devem ser contrariadas. É o “encaixotamento” dos sentimentos, a “privatização” das ações humanas que coloca os casais, mães/pais e os idosos no lugar de quem não se deve permitir ser nada além dessas nomenclaturas. É um meio entristecedor de limitar a premissa do nascer-crescer-morrer a apenas isso.

Ao por para fora sua tristeza, Margarete está verbalizando o desencanto pelo qual ela passou. E é preciso que ela faça isso, para perceber que de alguma maneira, ela resistiu ao esfacelamento de seus sonhos, criando uma nova perspectiva de felicidade. Suas viagens não foram feitas, mas seu café com queijo ao lado de uma boa companhia exemplifica o sabor das coisas simples da vida.

Mais informações sobre o curta, aqui na página da Novelo Filmes.

Assista ao curta aqui:

Yasmine Evaristo

Artista visual, desenhista, eterna estudante. Feita de mau humor, memes e pelos de gatos, ama zumbis, filmes do Tarantino e bacon. Devota da santíssima Trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch, sempre é corrompida por qualquer filme trash ou do Nicolas Cage.

2 thoughts on “Crítica “Qual Queijo Você Quer?” – #52filmsByWoman

  • Luana Souza

    Que curta incrível, nos faz realmente pensar a respeito do que já vivemos e queremos viver, dos sonhos que realizamos e dos que deixamos pra trás, se somos aquilo que sempre desejamos ser. Creio que a nossa geração ja está mais aberta a seguir seus sonhos a fazer o que quer e pode evitar essa crise existencial no futuro

    Resposta
  • Nathalia silva

    Sou daquelas que acredita que somos feitas de crises existências a cada ciclo (tive a minha aos 18, aos 20, 25) acho que aos 30 as coisas serão piores e aos 40, 50 então… Então, mesmo não tendo a idade, acho que me identificaria com Margarete. Não tem nada pior do que ver que o tempo passar e termos esse sentimento de que passamos pela vida e não vivemos nada do que sonhamos ou planejamos. Enfim, o curta deve ser bem reflexivo.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.