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Crítica “Star Wars – Os Últimos Jedi”

Star Wars – Os Últimos Jedi (Star Wars: The Last Jedi, 2017)
Direção: Rian Johnson
Roteiro: Rian Johnson
Baseado nas personagens de George Lucas
Elenco: Mark Hammil, Carrie Fischer, Daisy Rodley, Adam Driver, Jon Boyega, Oscar Isaac, Andy Serkis, Domnhall Gleeson, Laura Dern, Benicio Del Toro
Após encontrar o mítico e recluso Luke Skywalker (Mark Hammil) em uma ilha isolada, a jovem Rey (Daisy Ridley) busca entender o balanço da Força a partir dos ensinamentos do mestre jedi. Paralelamente, o Primeiro Império de Kylo Ren (Adam Driver) se reorganiza para enfrentar a Aliança Rebelde.

… um grupo resiste ao governo que lhes foi imposto, há décadas. O universo criado por George Lucas sobrevive a quatro décadas e, a cada ano, a cada expansão do universo – oficial ou não – seus admiradores aumentam. Sou uma dessas. Não sou fã, não faço cosplay, sequer sei nomes de golpes com sabres de luz ou espécies alienígenas. Fui marcada por Star Wars, numa tarde no início dos anos 1990, ainda criança, tentando entender porque aquele homem mau de capa e máscara queria matar o próprio filho. Foram anos de dúvidas e um leve trauma, para começar a compreender do que se tratava exatamente essa série de filmes.

Coração X Razão

Hoje, vivi mais uma experiência nesse universo, cheia de choros e saudosismo. Não esperem uma crítica muito racional, apontando os erros e acertos de maneira pragmática. Aliás, se for para falar de falhas, já deixo claro que temos trechos mais lentos, que podem desanimar os que gostam de ação constante e desmedida ou, que temos soluções que só são tomadas na última hora, passando a sensação de que estamos sendo enrolados. Temos também aquele toque de humor constante, que vai ser citado por alguns como exagerados ou desnecessários. Tem tudo isso e mais alguma coisa que eu não vou conseguir apontar agora. Estou, ainda, muito tomada pelas emoções.

Esse novo capítulo é desenvolvido do ponto que o filme anterior parou. O império caçando os rebeldes, Leia Organa (Carrie Fischer) liderando os foragidos e, Rey (Daisy Ridley) contactando Luke Skywalker (Mark Hammil). Nesse ponto as coisas já estão bem definidas. Sabemos exatamente quem são os mocinhos e os bandidos – apesar de que “mocinho” e “bandido” são apenas conceitos criados. O filme irá, então, se desenvolver, mais uma vez, em cima da guerra Império X Aliança. Mas há “algos” a mais nesse capítulo, pois apesar das baixas que atingiram a Aliança ainda há esperança.

A constante esperança

Esperança, inclusive, é a palavra que mais ouvi em “Star Wars – Os Últimos Jedi”. Ela move àquelas pessoas. Em ambos os lados e em ambas as direções. O que restou na caixa de Pandora, morre por último e, antes disso leva muitos dos que creem nela. Os jogos de guerra são pautados nisso, na esperança que cada um tem de conseguir impor ao outro o que acredita ser correto. Mesmo que pautado em vaidade e ganância. Financiado por quem assiste a isso como mero entretenimento, as gerações mudam, mas a situação é a mesma. A constante tentativa dos que persistem é a de criar uma sociedade que beneficie a todos.

Seguindo o que vimos em “Rogue One” (Rogue One, 2016), até a Aliança precisa sacrificar alguns adeptos na tentativa de reinstaurar a República. Ou se sacrifica ou é sacrificado, mas sabemos que as vítimas serão sempre os que estão a frente da batalha, pois os que se encontram em seus tronos e gabinetes, não são atingidos. Assim, mulheres, homens e extraterrestres assumem a frente dessa luta, afastam o medo e de maneira altruísta tentam garantir o futuro das suas gerações.

Tomando à frente

As resoluções e atitudes do filme, giram em torno da capacidade de domínio da Força, que Rey tem. Naturalmente Jedi, sem o devido treinamento, ela possui mais capacidade que guerreiros treinados. Basta agora o controle.

A frente da batalha há outras mulheres em papéis marcantes. Leia, desde sempre “atrevida”, assume seu lugar de liderança e, mais uma vez marca seu espaço. Rose (Kelly Marie Tran), a coadjuvante que pode soar desnecessária, carrega em si a história de muitos, explorados pelos abastados do império, que necessitam de servos. Almirante Holdo (Laura Dern), desacreditada em vários momentos, demonstrando frieza para cumprir suas funções.

Sacrifícios são marcas dessas e de outras personagens femininas que durante todo o longa. Para saber quais tipos de sacrifício, só assistindo e, entendendo o que dentro do seu conceito é um sacrifício. Mas eles existem, o tempo inteiro. Na “brincadeira” cheia de testosterona pelo poder, elas são firmes, cada uma a sua maneira, ao realizarem seus propósitos.

São raízes, se espalhando e nutrindo a verdadeira esperança que se deve ter. São firmes para que a maior tempestade as balance, machuque, mas deixe marcas com as quais elas podem lidar e guardar como memória de seus erros e acertos. É a natureza em sua forma completa, pois em cada uma há elementos que as diferenciam e equilibram.

 

Equilíbrio

Apesar de não ser uma palavra dita tantas vezes, o equilíbrio está presente como sentimento. A Força é isso. Além de ser tido como apenas um item religioso, ela move o universo, sendo assim, composta de tudo o que encontramos nele. Ela é leve e pesada, rígida e macia, boa e má. Existe em todos  e cada um pode optar em como a usa.

No filme as interações são a manutenção do equilíbrio. Se observarmos bem, sempre há uma relação de oposição entre as personagens. Suas posturas e pensamentos são complementares. A relação entre consciência e força ou, mente e prática permitem o desenvolvimento dos atos, a partir do momento que é sentida. Estão nos clichês das lutas, dos diálogos, dos olhares, pois são o compilado de quatro décadas de caos e desequilíbrio se ordenando – de maneira experimental e precária – para a passagem do bastão de quem assumirá a frente desse contexto.

Como segundo filme dessa nova trilogia, “Os Últimos Jedi” vem cumprir a sua função de desenvolver seu antecessor e, – mesmo com uma certa demora para nos dar o que já esperávamos – preparar o terreno para as ações dos que se levantarão em prol da restauração da República. A mensagem que fica é de que não importa o tempo que leve, as frustrações e os medos, importa não desistir diante das dificuldades.

Não sei em que parte da galáxia vocês estão. Apenas espalhem as histórias da resistência, separem suas armas e preparem-se para lutar. Que a Força esteja com vocês!

Yasmine Evaristo

Artista visual, desenhista, eterna estudante. Feita de mau humor, memes e pelos de gatos, ama zumbis, filmes do Tarantino e bacon. Devota da santíssima Trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch, sempre é corrompida por qualquer filme trash ou do Nicolas Cage.

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