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Hebe – A estrela do Brasil (2019)

Hebe – A estrela do Brasil (2019)
Direção: Maurício Farias
Elenco: Andrea Beltrão, Marco Ricca, Danton Mello, Caio Horowicz
Roteiro: Carolina Kotscho

Hebe Camargo (Andréa Beltrão) se consagrou como uma das apresentadoras mais emblemáticas da televisão brasileira. Sua carreira passou por diversas mudanças ao longo dos anos, mas foi durante a década de 80, no período de transição da ditadura para a democracia, que Hebe, ao 60 anos, tomou uma decisão importante. A apresentadora passou a controlar a própria carreira e, independentemente das críticas machistas, do marido ciumento e dos chefes poderosos, se revelou para o público como uma mulher extraordinária, capaz de superar qualquer crise pessoal ou profissional.

Exibido no Festival de Gramado de 2019, “Hebe – A estrela do Brasil”, faz um recorte, ambientado nos anos 80, da vida da mais bem sucedida e influente apresentadora do país. Com o comando nas mãos de Maurício Farias e roteiro de Carolina Kotscho, o longa apresenta Andrea Beltrão como a mulher que amadureceu diante das câmeras,  enfrentou a censura e deixou um legado de luxo e coragem.

Hebe - A Estrela do Brasil : Foto

Hebe Camargo, em meados dos anos 80, a frente de um programa de auditório na Rede Bandeirantes, todos os domingos entrava na casa dos brasileiros. Ela comandava um programa divertido e musical, entrevistava estrelas nacionais e internacionais e conversava diretamente com o telespetador. Com seu jeito espontâneo e despojado, em seu programa que era ao vivo, chamava a atenção ao expor suas opiniões e vontades.

Completando 40 anos de carreira e quase 60 de vida, Hebe está cansada. Cansada de obedecer padrões sociais, de salário insatisfatório e da decadência governamental. Ela se sente mais confiante e madura para dialogar com a audiência e isso chama a atenção da censura, que  quer proibir-la de realizar o programa ao vivo e ter aceso a todas as pautas.

O Brasil, em plena transição da Ditadura Militar para a democracia, ainda engatinhava na abertura política. E os moldes da censura, ainda tinham um forte poder sobre as produções artísticas.

Hebe, apoiava e defendia políticas sociais, liberdade de expressão e os direitos da comunidade LGBTQI, ligada a direita, não se deixava abater e a cobrar os governantes. Carregava em seus looks extravagantes (saltos sempre altíssimos, joias caríssimas, cabelos loiros e unhas enormes) um estilo próprio, a imagem de poder e sucesso. A audiência sempre se superando.

Recebendo uma proposta de Silvio Santos (Daniel Boaventura, bem deslocado), Hebe, começa uma nova jornada no SBT. Com brilho, emoção, gargalhadas, celinhos e Roberto Carlos (Felipe Rocha), seu novo programa começa com pé direito!

Mesmo sendo uma grande comunicadora, não consegue o mesmo com o filho de seu primeiro casamento, Marcello (Caio Horowicz). E o mima ao máximo possível. Sofrendo com os ataques de ciúmes de seu atual marido, Lélio Ravagnani (Marco Ricca), vive em uma relação morde e assopra. Chegando ao extremo.

Sempre auxiliada por seu sobrinho Cláudio Pessutti (Danton Mello) e de suas grandes amigas Nair Bello (Cláudia Missura) e Lolita Rodrigues ( Karine Telles), ela segue de cabeça erguida na luta contra a repressão.

Hebe - A Estrela do Brasil : Foto

O roteiro de Kotscho, recria um período da vida de Hebe Camargo, de forma inteligente e com uma aceitável licença dramática. Baseando-se em discursos reais e potencializando a personalidade de Hebe, fazendo o relato compatível e natural.

Maurício Farias, faz o mesmo com a direção, bem no contexto temporal e controle de espaços, quem conhece alguns dos acontecimentos retratos, os identifica prontamente e quem não, se situa perfeitamente. A narrativa se acelera em alguns momentos, mas é fluido e sincero. Diferenciado das demais cinebiografias, e com grande mérito, o filme já retrata Hebe como estrela consolidada e mesmo não se aprofundando em sua vida pessoal, pontua através da impecável carreira os problemas íntimos da esposa e mãe. Bela sequência em sua mansão, um plano sequência apenas com o som do tilintar de seus saltos e joias, em contraponto dos bastidores de seu programa bastante barulhento de marca diferença entre os dois mundos que habitava.

Hebe - A Estrela do Brasil : Foto

Andrea Beltrão, representa uma composição certeira, emula a persona Hebe, seus olhares e voz. Alcançando as nuances, hora dramática, hora cômica da destemida apresentadora. A inclusão de personalidades marcantes populares como a inesquecível Dercy Gonçalves (Stella Miranda), Chacrinha (Otávio Augusto), e outros em planos excelentes nos palcos e bastidores, é de grande acerto na direção e na produção de arte, unindo a fotografia e iluminação como forma de engrandecer o produto final na tela.

Dialogando com o luxo e a solidão, “Hebe -A estrela do Brasil”, apresenta uma mulher a frente de seu tempo com muita energia e capacidade, cercada por homens que querem a controlar e limar sua essência. Mesmo com todos os acertos, cai na armadilha de amenizar os defeitos, focando apenas no positivo. Acontecimentos como o apoio a Paulo Maluf e discussões sobre HIV, acabam por banalidades. Ainda sim, se mantém acima da média das produções brasileiras de cinebiografias. É belo e competente, levando ao público uma parcela do brilho de Hebe!

3,5/5

https://www.youtube.com/watch?v=SHlNoL0w7gM

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