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Filme: “Era uma vez em… Hollywood”

Era uma vez em… Hollywood” (Once Upon A Time…in Hollywood. EUA, 2019)

Direção e roteiro: Quentin Tarantino

Elenco: Leonardo DiCaprio, Brad Pitt, Margot Robbie, Emile Hirsch, Margaret Qualley, Timothy Olyphant, Julia Buttters, Austin Butler,

Sinopse: Era Uma Vez… em Hollywood, de Quentin Tarantino, revisita a Los Angeles de 1969 onde tudo estava em transformação, através da história do astro de TV Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e seu dublê de longa data Cliff Booth (Brad Pitt) que traçam seu caminho em meio à uma indústria que eles nem mesmo reconhecem mais. O nono filme do diretor e roteirista conta com um grande elenco e múltiplas histórias paralelas para fazer um tributo aos momentos finais da era de ouro de Hollywood. (CINEART)

Parece que o intervalo entre um filme e outro de Quentin Tarantino durou uma eternidade. Mas o nono filme do diretor estreia essa semana e os fãs com certeza vão se deliciar com mais essa peça de um universo tão único que o diretor criou.

“Era uma vez em… Hollywood” é uma homenagem, sem modéstias, ao universo cinematográfico dos anos 50/60/70. É um filme em que personagens interpretam personagens e, nos permite ter uma visão diferenciada do mundo glamuroso de Hollywood que permeia a mente dos espectadores. Com mais de uma trama acontecendo ao mesmo tempo – semelhante a “Pulp Fiction” (1994) – o filme é construído. A apresentação prévia das personagens facilita a assimilação para que no momento em que o público esteja familiarizado com suas histórias aconteça a tão esperada “Dança Tarantinesca” em que as subtramas se entrelaçam. A sensação é de assistir aos fogos de artifício na noite Ano Novo. Os olhos brilham, vibramos de felicidade por chegarmos ao fim de um longo filme sem faltar nenhum elemento tradicional do Maestro do Caos.

Leonardo DiCaprio está encantador com Rick Dalton, um ator famoso por seus papéis em filmes de western, com uma carreira em eterna ascensão, mas que na verdade não vai a lugar nenhum. Ele está preso a um tipo muito caricato de personagens e não consegue dar o próximo passo. Durão, cheio de charme e elegância, Dalton traz características que DiCaprio superou em sua carreira  Esses elementos acrescentam realismo ao personagem. DiCaprio não é mais só o galã bonito, que interpreta mocinhos rasos por ai. Ele amadureceu e se tornou um ator de fato, capaz de papéis mais complexos, se desvencilhando do eterno Jack (Titanic). Mas será que Dalton tem a mesma condição? Muito sentimental, há momentos em que chega a ser até cômica a melancolia do personagem. Fica claro que o mundo glamouroso dos testes e audições, da fama, por papéis importantes não passa de uma realidade bem vestida e maquiada.

Sempre ao lado de Dalton, Cliff Booth (Brad Pitt) é seu fiel dublê, amigo e faz tudo nas horas vagas. Eles são o famoso “pague 1 e leve 2” e essa dinâmica é perfeita. Dois personagens que se complementam, mas em seus momentos solo continuam a ter vida própria e importância. Ex-herói de guerra, Cliff também vive um dilema: é bonito demais para ser dublê, mas sem o talento necessário para ser ator.  Com isso ele está sempre a sombra de Rick. Dono de um passado sombrio, que dá um tom de mistério para o personagem, Cliff é o bonitão e durão que todos temem, porém tem seus encantos. Fora a química com DiCaprio, Pitt tem outra parceira de cena que traz para o personagem um alívio cômico, uma pitbull que é sua companheira fiel. 

Um momento controverso e ainda assim muito divertido é o encontro de Cliff com Bruce Lee (Mike Moh) nos bastidores de Besouro Verde e sua interação inesperada. Tarantino foi muito criticado pela família de Lee pela maneira como o famoso ator foi retratado de maneira caricata com um forte tom de arrogância. Ainda assim, isso não tira o brilho da atuação de Moh que é no mínimo divertida, se realmente não estiver condizente com a verdade.

O filme não só retrata o universo do cinema, mas se encaixa dentro da realidade de fatos do ano de 1969. Nos primeiros boatos sobre “Era uma vez em… Hollywood” surgiu uma especulação de que ele estaria filmando uma ficção sobre a família de Charles Manson, um famoso serial killer da época, líder de uma seita e, foi responsável por muitos crimes. O filme não é sobre eles, mas não se engane pois muitas referências a esse acontecimento macabro aparecem na narrativa. Inclusive uma das subtramas é baseada na morte da atriz Sharon Tate (Margot Robbie) que foi assinada por membros do culto sombrio aos 8 meses de gestação. A atriz era casada com o diretor Roman Polanski.

A Tate do filme tem uma presença ensolarada. Sempre linda, leve, com um sorriso nos lábios ela vem como o alívio das melancolias dos outros personagens. O filme interpretado pela atriz, “Arma Secreta contra Matt Helm” (1969) presente na trama de Tarantino é como um personagem e abre espaço para personagem participar mais da trama.

A sensação que temos é que o filme tem quase duas horas de introdução, e nesse caminho vários atores já comuns no universo de Tarantinesco vão aparecendo e trazendo o conforto e a alegria para os fãs. Michael Madsen, Zoe Bël, Kurt Russel, são uns dos rostinhos familiares do público. E em algum momento, temos uma sensação de que há a presença Uma Thurman mas, na verdade é Maya Hawke, sua filha, que dar o ar graça.

Em um filme no qual a violência gratuita e cenas cheias de sangue e ação não são o foco, como em outras produções, Tarantino parece preparar o público para um momento ápice em que ele deixa registrado sua marca: violência, muita luta, muito sangue, um pouco de risadas e o não contentamento com os desfechos da realidade. Ser diretor e também ter liberdade poética e reescrever o que a vida nos tirou de “final feliz”.

Elementos únicos de montagem, fotografia, emulação de cenas, referências escancaradas aos seus filmes e ídolos favoritos, metalinguagem, diálogos entre suas obras, fetiche por pés e belas atrizes em carros maravilhosos, estão por toda parte fazendo de “Era uma vez em… Hollywood” já um clássico na galeria de Tarantino mesmo tendo acabado de estrear.

Trailer Oficial:

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