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Resenha | João Ubaldo Ribeiro – Novas Seletas

joão ubaldo novas seletas nova fronteiraJoão Ubaldo Ribeiro – Novas Seletas
Coordenação:
 Laura Sandroni
Organização, apresentação e notas: Domício Proença Filho
Editora: Nova Fronteira
Ano: 2019

Texto escrito por Rafael Assis

A obra de João Ubaldo Ribeiro dispensa apresentações – ou deveria dispensar. Romancista, contista, cronista, roteirista e jornalista; tem sua obra influenciada pela infância passada em Aracaju, para onde a família se muda dois meses após seu nascimento. Amigo do cineasta Glauber Rocha (1939 – 1981) e parceiro em muitos trabalhos. Se inicia na carreira jornalística em 1957, como repórter no Jornal da Bahia. Torna-se bacharel em direito pela Universidade Federal da Bahia e recebe uma bolsa da embaixada norte-americana para realizar o mestrado em administração pública e ciência política na Universidade da Califórnia.

De volta ao Brasil, em 1965, leciona ciência política na mesma UFBA em que se formou. Este tipo de experiência diversa se sente nos seus textos, que aparecem com uma mescla de erudição e cultura popular, citando o que havia de mais relevante na alta cultura com a mesma graça e familiaridade com que aborda os temas mais singelos da brasilidade.

Talvez por isso, trazer sua obra para uma edição das Seletas, destinadas a apresentar o autor para um público em formação que não o conhece é uma tarefa ingrata. Vou me fazer entender, me acompanhem.

Com o propósito do didatismo, a edição coordenada por Laura Sandrini e organizada por Domicio Proença Filho esmiúça características dois textos de João Ubaldo através de pequenos prefácios para cada texto. O tom é simples e direcionado claramente para jovens estudantes. A intenção é boa, tirar um pouco do tradicional ranço que nosso sistema educacional acaba por cobrir nossos clássicos literários por meio da obrigação da leitura. Mas temo que o tiro saia pela culatra. Ao explicar estes textos, paradoxalmente ricos e simples, perde-se um o prazer da leitura. Ao estar dado ali, explicado o que o texto procura contar, mata-se a curiosidade da descoberta. É como um pequeno spoiler controlado, que longe de estimular a leitura, apenas parece deixar mais simples o trabalho do professor.

A diagramação não colabora. Olhos espalhados pelo texto trazem significados de palavras que, julga-se, os leitores possam não conhecer. Vão aí regionalismos, estrangeirismos, invencionices do autor e referências à obras e personalidades. Mesmo lendo com a memória saudosa da infância, muitas destas escolhas dicionarizadas soam óbvias e emulam uma certa desconfiança acerca da incapacidade dos alunos. Pouco tem a ver com o legado de João Ubaldo.

Apesar disso, a leitura é bastante agradável e a seleção dos textos, acertada. O humor do autor é valorizado através de contos e crônicas, bem como sua competência como escritor se mostra presente nos trechos dos romances escolhidos. Faz lembrar com um bom sabor da obra desse autor, que precisa realmente ser resgatado para a gurizada, para mostrar que a literatura brasileira não é monótona e nem precisa de muletas.

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