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Me Chame Pelo Seu Nome e a (re) descoberta

Me Chame pelo Seu Nome Call Me by Your Name Luca Guadagnino James Ivory Timothée Chalamet Armie Hammer Michael Stuhlbarg Amira Casar Esther Garrel

Nas transições da vida, aprendemos a lidar conosco e com o meio que habitamos. A juventude nos trás vigor, mas ao mesmo tempo dúvidas. O nosso corpo busca sentido. Curiosos, temos a escolha de provar ou não as diversas opções que nos rodeiam.

No filme Me Chame Pelo Seu Nome, Elio (Timothée Chalamet), um jovem de 17 anos, vivem em seis semanas o aflorar de seus desejos. Em suas férias, ele está como mais um jovem dessa idade, completamente entediado. Com a chegada de Oliver (Armie Hammer) seus sentimentos são revirados e ele descobre que o amor e o prazer podem vir de qualquer canto. 

Elio tem nessas semanas, uma série de experiências que o complementam. Há o romance com Marzia (Esther Garrel), um típico flerte entre jovens da mesma idade. Há o encanto com Oliver, o homem mais velho, no qual a admiração e o desejo por ser/ter aquele corpo surge. Há, de maneira não tão visível para ele, mas sim para o espectador, a proximidade com seus pais (Michael Stuhlbarg e Amira Casar) que percebem o amadurecimento do filho.

As relações firmadas na história são todas marcadas pelas mudanças que essas promovem nas vidas das personagens. São alterações nas posturas, pensamentos e olhares, que guiarão suas vidas a partir desse momento. São pessoas em processos de adaptação.

O não-lugar do imigrante

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Antes de concluir esse texto, conversei com várias pessoas sobre o filme. Duas conversas específicas, me nortearam com relação a “coisas” que eu senti ao vê-lo, mas não sabia expressar. Uma delas foi com o Walter Coelho, da página Bad Timing. Em uma conversa trivial sobre filmes candidatos a uma vaga no Oscar, chegamos ao ponto de falar sobre as estranhezas desse filme. Estranhezas que existem entre a relação de Elio e Oliver.

Ele me explicou, que o autor do livro no qual o filme é baseado, Aciman André, é um imigrante Egípcio, que vive há muitos anos nos Estados Unidos. Em sua obra, sempre há nas relações entre as personagens algo que transmite a difícil adaptação das pessoas a um lugar ao qual ela não pertence. sabendo disso, a primeira frase que Elio diz – “Chegou o intruso” – ganhou, ao meu ver, força, por demarcar a “invasão” do seu espaço pelo estrangeiro. Walter me atentou para como, a relação de Elio em ceder seu espaço – o quarto – é uma constante a cada ano que se passa. Nas relações entre nativos e estrangeiros, esse sentimento também é existente. Não é um processo fácil, receber alguém em sua pessoalidade, ceder um pedaço de si para acolher outro. Nem entre os mais altruístas.

Porém, passado esse contato inicial, em meios as conversas, descobrir que há entre eles similaridades inicia a quebra da barreira. Não é apenas a barreira emocional, mas também cultural, que dita os modos aceitos de como se portar.

A (re) descoberta do prazer

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A segunda conversa,  foi com minha amiga Maria Fernanda Carvalho, psicóloga carioca, sobre as relações de prazer estabelecidas pelo jovem. São relações que se iniciam com as afirmações das descobertas do que almejamos em dado momento. Transitar da adolescência para a vida adulta requer muita força, pois é um momento cheio de dúvidas e idealizações. Sobre a necessidade de rever aquilo que temos como certeza.

Elio já se descobriu. Ama música, literatura, se diverte com os amigos… e um dia, do nada, precisa reeducar e entender seu olhar. Por isso a resistência, a afirmação de que o outro é mal educado, a repulsa. É aí que o filme adentra na conversa citada acima. Partindo da idealização das imagens projetadas – digo isso, pois o filme é asséptico e impecável em sua representação -, percebemos que há a reconstrução do que lembramos. Obviamente, das melhores memórias. Aquelas que sublimam qualquer falha e entranham em nosso imaginário.

Daí a redescoberta em Elio. Ceder a rigidez e arriscar adentrar no mundo daquele outro. Para ele, naquele momento, quase um passaporte para habitar diversos países-corpos e, os explorar.

Esculpir um filme

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Por meio dos critérios de beleza, definidos esteticamente pelos pintores e escultores da antiguidade, Luca Guadagnino desenvolve os aspectos visuais do seu filme. Em Me Chame Pelo Seu Nome, a escolha da maneira como os corpos de suas personagens são exibidos, remetem as obras desse período. Nas cenas, sempre há uma escolha de que os atores apareçam em posturas que se assemelham as obras de arte greco-romanas. É correto dizer que o filme é uma escultura viva. A locação e a fotografia (de Sayombhu Mukdeepron) afirmam essa ambientação. Se passar na Itália, faz com que a identidade de espaço de arte tenha um peso maior.

Como  é desenvolvido na trama o (re)conhecimento do corpo, definir a orientação sexual das personagens é limitar o filme a apenas sexo. E ele é mais do que isso. É sobre se tocar. Sobre sentir e não entender. sobre arriscar, ou não. Sobre a mescla de sentimentos que vivemos quando amamos e quando o amor se vai. Sensível, Me Chame Pelo Seu Nome é uma imersão na beleza do primeiro amor.

 

Ficha Técnica: 
Me Chame pelo Seu Nome (Call Me by Your Name, 2017)
Duração: 2h 12min
Diretor: Luca Guadagnino
Roteiristas : James Ivory
Elenco: Timothée Chalamet, Armie Hammer, Michael Stuhlbarg, Amira Casar, Esther Garrel
Trilha Sonora: Marco Armenise
Direção de fotografia: Sayombhu Mukdeepron
Edição: Walter Fasano
Trailer:

Yasmine Evaristo

Artista visual, desenhista, eterna estudante. Feita de mau humor, memes e pelos de gatos, ama zumbis, filmes do Tarantino e bacon. Devota da santíssima Trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch, sempre é corrompida por qualquer filme trash ou do Nicolas Cage.

6 thoughts on “Me Chame Pelo Seu Nome e a (re) descoberta

  • Luana Souza

    Gostei de como esse filme aborda questões tão comuns e ao mesmo tempo tão não faladas atualmente: o primeiro amor, sexualidade e aceitação. Creio que seja um filme que te faz pensar bastante após assisti-lo. Como você bem disse ele vai alem de só sexo.

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    • Yasmine Evaristo

      Exatamente, Luana. Um filme que provoca reflexões.

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  • Nathalia silva

    Que maneira de olhar ao filme, me surpreendi com a questão da visão do autor sobre a questão de se adaptar a um meio que não é seu, o ser intruso. Sem falar nessa re (descoberta) do que de fato o protagonista quer, anseia e deseja. São pontos bem analisados e observados por você. Gostei de saber sobre isso.

    Beijos

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    • Yasmine Evaristo

      Obrigada pelo comentário. Beijos.

      Resposta
    • Yasmine Evaristo

      Brigada, Jully. Quem bom que você gostou.

      Resposta

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