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Livro: Mrs. Dolloway

Mrs Dolloway Virgínia Woolf Companhia das Letras Penguin CompanhiaMrs. Dolloway

Autora: Virgínia Woolf
Tradutor: Claudio Marcondes
Capa: Claudia Espínola de Carvalho
Lançamento: setembro/2017
Páginas: 240
Editora/Selo: Penguin Companhia

A obra mais famosa de Virginia Woolf, Mrs. Dalloway narra um único dia da vida da famosa protagonista Clarissa Dalloway, que percorre as ruas de Londres dos anos 1920 cuidando dos preparativos para a festa que realizará no mesmo dia à noite.

 

Existem livros – e autores – que nos oferecem perspectivas sobre toda uma época ou mentalidade. Me recordo muito bem do choque sentido quando, com um exemplar de Dostoievski em mãos, encontrei vastas semelhanças em tom com obras de Machado de Assis. Diálogos improváveis, mas que se tornam ricos na mente dos leitores.

Sem nunca ter lido nada de Viginia Woolf, Mrs. Dalloway se apresenta não só como uma bela introdução à autora, mas também me evoca estes mesmos sentimentos, trazendo à mente autores que a puderam influenciar ou que foram influenciados por ela. E quando digo isso não me refiro apenas ao que tratamos usualmente como “literatura.”

É muito instigante pensar que quando escrevia seu romance, Woolf já estivesse a par e influenciada pelo pensamento psicanalítico vigente na época e que isso é representado no livro através da profunda subjetividade da narrativa e do conceito estabelecido que pequenos acontecimentos da vida cotidiana se expandem formando uma trama muito maior.

Se a história começa numa simples saída para se comprar flores, a sequência de eventos – ora banais, ora de extrema importância para a personagem título – se assemelha a um fluxo de pensamentos que seguem aparentemente sem controle, mas formando um padrão reconhecível ao final. Vale dizer muito rapidamente que tal profusão de pequenas minúcias exige da tradução que precisa optar por manter a integridade do texto ou adaptar pequenos elementos ou trejeitos para a identificação do público estrangeiro. No caso de uma obra tão importante, obviamente opta-se pelo material base. Isto exige do leitor certa bagagem que se faz necessária para a completa imersão na obra. É improvável também que qualquer leitor tenha passado sua vida incólume à figura e à obra de Virginia Woolf, e portanto é fácil tentar extrapolar a leitura buscando traços da figura que se tem d autora. Mas sem isso, o romance ainda se basta.

Na verdade, trata-se no fim de um livro com um uso da linguagem que é prazeroso. Não falo da narrativa pois isso dependerá de cada um e não entraria em méritos da trama para não estragar as sensações dos leitores. Mas a forma como Woolf trata a linguagem do texto, de forma respeitosa e inovadora, é um deleite a parte. Para apaixonados pela escrita, o livro torna-se um deleite, e pode ser desfrutado como tal, chamando a leitura de forma casual em qualquer lugar. Grande acerto portanto sua publicação no formato consagrado da Classicos Penguim pela Companhia das Letras, que reúne um design de classe ao mesmo tempo que reconhece em seu formato essa natureza elástica da leitura, que como a prosa em Mrs. Dalloway, pode surgir em qualquer lugar motivada por “qualquer coisa.”

Texto escrito pelo colunista convidado Rafael Assis Rafael Assis

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