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Que horas eu te pego? | Crítica

                                   *escrito pelo colunista convidado Carlos Dias

No meio de algumas estreias tão elogiadas mesmo antes de serem vistas, confesso que ainda gostaria de entender como isso funciona, surge um novo “velho” clássico. Por isso digo: Até que enfim! … só isso que tenho a dizer. Na verdade, tenho mais coisas a dizer.

Temos Nolan com Oppenheimer e seu elenco fabuloso e sua maneira de filmar única. Temos Barbie arrasando com sua publicidade rosa, temos nosso Tom Cruise em mais uma missão impossível pulando ele mesmo de uma montanha com uma moto, além de Michael Bay trazendo mais um show de tecnologia e sua patenteada câmera lenta com o “Despertar das Feras”, além do “Flash”, ai ai ai o “Flash”, com boa vontade e mente aberta é um filme bom, independente dos efeitos produzidos em CorelDraw…este é o cenário montado para algo inesperado acontecer.

Daí fora dos padrões, pelo menos dos atuais, surge “Que Horas eu te pego?

Não é preciso muito para atrair a atenção, Jennifer Lawrence rainha, sensualizando, como se precisasse, cheia de talento, ganhadora de um Oscar, estampa a chamada.

Nada de Katniss, nada de Mística, dessa vez sem fantasia, ao menos se você considerar lindos vestidos colados como tal.

Textos curtos, cenas rápidas e pura leveza, este é o tom do filme. Mas lembra que eu disse novo “velho“ clássico? Por quê? Este filme enche meus pulmões para gritar nomes como “Porki’s”, “Mulher Nota Mil”, “A Garota de Rosa-Shocking”, “American Pie” e o “Virgem de Quarenta Anos”. Concordem comigo, há quanto não víamos estes filmes?

Nos anos 80 e 90 fomos agraciados com filmes sobre Jovens em busca de suas primeiras ou até bizarras experiencias sexuais. Já nesta época, o sexo era um assunto um pouco mais leve, sem tabus, tanto para meninos quanto para meninas, as histórias regadas de aventuras em um ambiente bem conhecido dos norte-americanos que foi sendo absorvida por nós. 

O ambiente mencionado era a tão cobiçada e temida Universidade. O marco de passagem da fase dependente de jovem para o desbravar dos campos inimagináveis da vida adulta.

Mas vamos nos aprofundar um pouco mais, porque estes filmes foram tao celebrados? O motivo é que o tema abordado é cercado de barreiras e mitos. Sexo.

Não podemos deixar de levar em conta a linha do tempo que antecede a produção em massa destas obras… Anos 50, o mundo saia de uma guerra mundial, os homens voltavam da guerra para seus lares, as mulheres saiam das fabricas de volta para suas casas, uma sociedade cansada de carnificina queria voltar à pureza da família tradicional segura em sua religiosidade. O cenário forçou o surgimento de uma sociedade careta e protegida por suas próprias convicções de perfeição. Surgem homens como Joseph McCarthy, o autoproclamado ditador da moral e do puritanismo nacionalista americano. Ele conseguiu relacionar o comunismo que se espalhava pelo mundo com a liberdade de expressão artística, foi ele perseguidor de músicos e do cinema, qualquer coisa poderia ser um estímulo a trair a pátria.

Mas uma coisa foi mais forte que estas sanções, o desejo humano, que está incutido em nosso DNA e não pode ser contido por intenções e normas criadas por alguém, o simples desejo.

O surgimento do movimento hippie e a luta pela igualdade social, desencadearam a ânsia pelo direito de vivermos conforme nossas paixões. Contamos com a arte, que mais uma vez esteve na vanguarda desta batalha, através da música e do cinema.

Diretores e atores focaram no mais primitivo dos sentimentos humanos e elaboram histórias de jovens comuns que buscavam emancipação social.

Estes filmes, uniam cotidiano com bizarrices, festas em fraternidades regadas a bebida e gente pelada. Garotos inexperientes buscavam garotas inexperientes para suas primeiras aventuras, valia de tudo. Confusões e situações cômicas suavizavam o fardo de falar sobre algo sem o medo de ser perseguido.

Estes filmes nos alcançavam somente nas madrugadas da nossa vida, pois eram os únicos horários permitidos para entrarem em nossos lares através das nossas Tvs que só sintonizavam incríveis 5 canais.

Mas voltemos ao filme, que é o nosso assunto. Jennifer Lawrence (Maddie), é uma garota bloqueada para sentimentos e endividada que aceita um anuncio de um casal rico (vemos nosso querido Ferrys Bueller/Mathew Broderick) que precisa que seu filho super protegido , introvertido e esquisito Andrew Barth Feldman,(Perci) sai da concha antes de entrar na faculdade.

Tentativas e mais tentativas frustradas de iniciar o garoto numa experiência forçada, levam a situações divertidas, nudez explicita e palavreado comum, nos guiam a se envolver com os personagens mesmo que brevemente. Ainda tem espaço para um curto drama sobre perdão e bullying. Além do pano de fundo do crescente e devorador mercado imobiliário que avança sobre pequenos oásis de natureza que ainda resistem nas cidades grandes.

A atriz, vencedora do Oscar por “O Lado Bom da Vida”, consegue entregar uma personagem suave e divertida, além de qualquer crítica por sua interpretação desprendida. 

Um filme querido, para curtir ao lado de amigos e longe dos filhos para não os envergonharem.

Afinal, pais não podem ver estas coisas.

*atualmente o filme está disponível na plataforma de streaming HBO Max
Que horas eu te pego?

Diretor: Gene Stupnitsky

Elenco: Jennifer Lawrence, Andrew Barth Feldman, Laura Benanti, Natalie Morales, Matthew Broderick, Scott MacArthur, Ebon Moss-Bachrach, Hasan Minhaj

Distribuição: Sony Pictures

One thought on “Que horas eu te pego? | Crítica

  • Catherine Costas

    Excelente texto 👏🏼👏🏼

    Resposta

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