Resenhas

Resenha: A Cidade Murada, de Ryan Graudin

A_CIDADE_MURADA_1436161094440777SK1436161094BNome do Livro: A Cidade Murada
Nome Original: The Walled City
Autor: Ryan Graudin
Tradução: Guilherme Miranda
Editora: Seguinte
ISBN:   9788565765633
Páginas: 400
Ano: 2015
Nota: 4/5
Onde Comprar: Amazon

A Cidade Murada é um terreno com ruas estreitas e sujas, onde vivem traficantes, assassinos e prostitutas. É também onde mora Dai, um garoto com um passado que o assombra. Para alcançar sua liberdade, ele terá de se envolver com a principal gangue e formar uma dupla com alguém que consiga fazer entregas de drogas muito rápido. Alguém como Jin, uma garota ágil e esperta que finge ser um menino para permanecer em segurança e procurar sua irmã. Mei Yee está mais perto do que ela imagina: presa num bordel, sonhando em fugir… até que Dai cruza seu caminho.
Inspirado num lugar que existiu, este romance cheio de adrenalina acompanha três jovens unidos pelo destino numa tentativa desesperada de escapar desse labirinto.

O grande trunfo de A Cidade Murada é conter uma história real. Talvez não uma história que tenha acontecido exatamente como contada, mas essa é a realidade de muitas mulheres: a de serem vítimas do tráfico sexual. De acordo com dados da ONU, cerca de 2,5 milhões de pessoas sofrem tráfico humano a cada ano e 80% delas são mulheres vítimas do tráfico sexual.

O livro conta com três personagens principais que narram cada qual um capítulo alternadamente. A história começa com uma contagem regressiva de 18 dias e após alguns capítulos descobrimos do que se trata essa contagem e de como o destino desses três personagens se cruzam. Os nomes dos personagens são chineses, já que essa cidade existiu na China e a autora resolveu ambientar sua história o mais fielmente possível, mesmo trocando os nomes das cidades. No primeiro capítulo, narrado por Jin Ling, conhecemos a realidade de viver nas ruas dessa cidade onde ela sendo menina passa-se por menino, pois nenhuma garota vive lá sem ser prostituída. Ela vive como pode, roubando e fugindo – assim como os demais meninos metidos em gangues e segue sua busca pela irmã Mei Yee que foi vendida para um bordel da cidade. Em seguida vemos o que acontece com uma menina de bordel que tenta fugir e o tratamento assustador que ela recebe. Os pensamentos de Jin Ling são o que todas as mulheres do mundo devem ter ao saber de outras vítimas de vilolência: “Aquela menina. Seus olhos impetuosos. Poderia ser eu. Minha irmã. Qualquer uma de nós.” (pág 14). A força de Jin é impressionante. A convicção em seu objetivo mesmo sem saber exatamente como alcançá-lo, faz com que a possibilidade de resgate da irmã seja uma certeza em sua mente. Obrigada a enfrentar desde cedo maus tratos dos mais fortes e a não ter seu espírito subjugado, segue dessa mesma forma na cidade.

Dai está na cidade murada por motivos diferentes das irmãs. Talvez para mostrar que aqueles que fazem as escolhas erradas não precisam viver o resto de suas vidas em penitência por elas, desde que encontrem uma maneira de se redimir. Mesmo não sendo possível consertar o erro, repará-lo de alguma forma para o futuro já é o suficiente para seguir em frente. Ser um personagem capaz de enxergar a feminilidade sem associá-la com a fragilidade fez Dai crescer em minha avaliação, já que infelizmente existem pessoas reais que não são capazes disso.

Mei Yee é uma personagem que cresce com a história conforme ela entende do que é capaz. Ela ganha força através de suas dificuldades, mas principalmente por entender não ser capaz de sobrevivier naquela vida roubada em um bordel como escrava sexual. Enquanto tentam convencê-la de sua sorte pois seu destino poderia ser pior e tentar levá-la ao conformismo, o vislumbre do que ela estaria perdendo é o suficiente para lhe dar forças para enfrentar os seus medos. A esperança é a arma mais forte que alguns podem ter.

O local onde se passa a história, a chamada “Cidade Murada” realmente existiu e nessa edição da editora Seguinte podemos conferir fotos da cidade e de uma maquete no final do livro para mostrar a densidade da construção. Durante o texto os personagens comentam a falta de luz do sol e ao ver as imagens dá para entender como isso foi possível. A ambientação, o cenário descrito (apesar de não ter muita descrição), ajudam a tornar o ambiente sufocante, sujo, hostil e praticamente inabitável, como devia ter sido a cidade verdadeira. Em nota a autora cita a sua experiência com a descoberta da cidade real; mesmo após a sua extinção e o impacto causado por este conhecimento. Ryan Graudin também deixa a oportunidade de o leitor sair de sua zona de conforto e conhecer o site da Internacional Justice Mission, que se dedica a resgatar vítimas do tráfico humano e oferecer proteção a elas. A editora fazendo uma grande trabalho deixou disponíveis os sites da Unesco e Unicef – brasileiros – onde podem ser feitas denúncias sobre violência contra ciranças e adolescentes.

A edição está muito bonita, com a capa cheia de detalhes de construções. A fonte e espaçamento são de tamanho confortáveis para a leitura e tem as fotos no final do livro para enriquecer a história. O livro vem com um marcador na contracapa que pode ser cortado caso o leitor queira. Infelizmente achei vários erros de revisão.

A história é impossível de parar de ler. É atual, bem construída, tem personagens fortes e cativantes. Porém existe um ar de conto de fadas que rodeia a narrativa e segue até o final que não me agradou. A inconsistência de Dai representar o papel que representa na trama, tanto na parte de conto de fadas quanto no papel que tem para a contagem regressiva do livro, não me convenceram. Entendo o apego da autora a seus personagens e a vontade de fazê-los felizes após tanto sofrimento, mas diante de um cenário tão realista eu confesso que não esperava esse tipo de desfecho. Mesmo assim recomendo a leitura!

Franciely

É estudante de Letras por falta de melhor opção (já que não se pode ser somente estudante de literatura), leitora por prazer, amiga dos animais, viciada em internet e resenhista porque gosta de experimentar coisas novas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.