Resenhas

Resenha: A Vida Secreta das Abelhas, por Sue Monk Kidd

A_VIDA_SECRETA_DAS_ABELHAS_1400691218BNome do livro: A Vida Secreta das Abelhas
Nome Original: The Secret Life of Bees
Autor(a): Sue Monk Kidd
Tradução: Maria Ignez Duque Estrada
Editora: Paralela
ISBN: 9788565530576
Páginas: 232
Ano: 2014
Nota: 5/5
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O mundo de Lily, uma menina de 14 anos, mercado pela dor e pela morte de sua mãe. Diante de um momento crítico, em que a única pessoa que lhe resta está em perigo, que Lily vai iniciar sua aventura, uma experiência que a abrirá finalmente para o amor. Um romance sobre o autoconhecimento, no qual a solidariedade humana é a abelha rainha que congrega todos os corações a sua volta. 

 

 “Adorei a ideia de as abelhas terem uma vida secreta, como a que eu estava vivendo” (pág 114)

Esta é uma história de autoconhecimento que é capaz de emocionar e intrigar o leitor, onde nem tudo é bonito, mas verdadeiro e intenso.

Lily é uma garota branca de 14 anos vivendo em uma fazenda nos EUA no ano de 1964. Ela mora com um pai que não é amoroso e não acredita no potencial da filha, pois estudar, segundo ele, não leva a nada. Eles tem uma empregada chamada Rosaleen, que é negra e cuida de Lily desde que esta era criança. Após as duas enfrentarem um grande problema devido ao racismo da região, elas acabam partindo para uma nova vida, onde Lily vai aprender quem ela é e o que ela quer ser.

Lily é insegura, não tem amigos, não acredita que possa realizar seu sonho de ser escritora e não tem apoio do pai para nada. Ela diz que se sente “como se estivesse representando uma menina, em vez de realmente ser uma” (pág 13) As mulheres na época eram muito pouco valorizadas e pessoas como o pai de Lily achavam que cursar a faculdade não era coisa com a qual uma mulher devesse perder seu tempo. Lily anseia por algo em que possa acreditar, que faça com que a culpa que carrega dentro de si seja aliviada. Quando existe a oportunidade de que algo além de sua compreensão possa aliviar a sua dor, ela deposita sua fé e acredita com todo o coração que só uma menina que cresceu sem o amor de sua mãe pode ter.

“Até então eu pensava que o grande objetivo era que os brancos e os negros se dessem bem, mas depois disso decidi que um plano melhor seria todo mundo ser incolor. Lembrei do Eddie Hazelwurst dizer que eu me rebaixaria vivendo naquela casa com aquelas negras, e por mais que tentasse não conseguia entender por que o mundo tinha acabado assim, por que as mulheres de cor haviam se tornado o ponto mais baixo na escala da vida. Bastava olhar para elas para ver como eram especiais, uma verdadeira realeza oculta entre nós. Eddie Hazelwurst. Que merda de homem.” (pág 159)

No ano de 1964 foi aprovada a lei dos Direitos Civis nos EUA, que teoricamente pôs fim a segregação racial, permitindo que negros e mulheres melhorassem sua qualidade de vida e instaurou o voto universal, independentemente de nível educacional ou condição social. Até então existiam locais separados para negros e brancos como no cinema, hospitais e escola, geralmente deixando que os negros tivessem seus estabelecimentos em qualidade inferior. Quem já leu ou assistiu o filme A Resposta (The Help), de Kathryn Stockettvai lembrar das protagonistas que eram empregadas domésticas e sofriam o preconceito dos anos 60 nos EUA.  A Vida Secreta das Abelhas se passa na mesma época, com os mesmos preconceitos e também com o mesmo tipo de pessoa que sabe pensar por si mesma, sem levar em conta as pequenas diferenças de aparência.

A questão racial é muito forte no livro. Chega ao ponto de até mesmo Lily que se achava alguém sem preconceito admitir que também o sentia em seu íntimo. Em contraponto uma família negra acolhe a garota branca e lhe dá a atenção e amor de que precisa, que lhe foi negado pelo pai. Enquanto enfrenta os problemas da adolescência, Lily vai de encontro aos problemas do mundo adulto, aprendendo a cuidar de abelhas e ajudar na produção do mel. Ela aprende muitas coisas com as abelhas e retira forças disso para enfrentar a própria realidade. Conhece May, que não é uma pessoa normal pois tem dificuldade em lidar com seus sentimentos e precisaria de ajuda psiquiátrica – não disponível a negros na época, o tratamento era internação e eletrochoque. Aprende que todo ser vivo é importante e tem o seu papel no mundo, não sendo justo matá-los só porque não os entendemos.

“Há coisas que não importam muito, Lily. Como a cor da casa, por exemplo, que diferença faz num esquema total da vida de alguém? Mas levantar o espírito de uma pessoa, isso importa. O problema das pessoas é que (…) elas sabem o que é importante, mas não sabem escolher. Isso é bem difícil, (…) A coisa mais difícil da vida é escolher o que importa.” (pág 114)

A capa do livro é muito bonita, soft touch, as folhas são de papel pólen (amareladas) com letra e espaçamento de bom tamanho. A editora Paralela está de parabéns pois a revisão está impecável e apesar de não conhecer o texto original, não encontrei frases que não fizessem sentido, onde pudesse haver erro na tradução.

Existe a ideia plantada com uma cena do livro que me deixou emocionada: quando um bando de mulheres enfrenta um homem opressor e este não vê saída a não ser ceder ao que elas querem. A união realmente faz a força e aqueles que tem um ideal e trabalham juntos nele não são facilmente vencidos por quem só dissemina o ódio e as tradições. Este livro não é só a jornada de uma menina para descobrir quem é, mas para ajudar ao leitor a descobrir isso. Mesmo que eu não tenha nascido na época da mudança, é preciso que sejamos capazes de reconhecer que alguém teve que lutar para que esta mudança acontecesse e se hoje o mundo é um lugar melhor do que era nos anos 60 é porque essas pessoas venceram. Recomendo a leitura para todos que acreditam em igualdade, que gostam de história contemporânea e que gostariam de vivenciar mais boas mudanças a favor das pessoas, e não das tradições.

Franciely

É estudante de Letras por falta de melhor opção (já que não se pode ser somente estudante de literatura), leitora por prazer, amiga dos animais, viciada em internet e resenhista porque gosta de experimentar coisas novas.

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