Resenhas

Resenha: As barbas do Imperador, por Lilia Moritz Schwarcz

AS_BARBAS_DO_IMPERADOR_1256601388BNome do Livro: As barbas do Imperador – D. Pedro II, um monarca dos trópicos 
Autor(a): Lilia Moritz Schwarcz
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9788571648371
Ano: 1998
Páginas: 664
Avaliação: 5/5
Onde Comprar: Livraria Cultura

Misto de ensaio interpretativo e biografia de d. Pedro II, este livro materializa o mito monárquico ao descrever, por exemplo, a construção dos palácios, a mistura de ritos franceses com costumes brasileiros, a maneira como a boa sociedade praticava a arte de bem civilizar-se, a criação de medalhas, emblemas, dísticos e brasões, a participação do monarca e o uso de sua imagem em festas populares. Com sua murça de penas de tucano, Pedro II de certo modo legitimava a tropicalização dos costumes monárquicos; depois, trocando o manto imperial pelas roupas de cidadão, estará de algum modo anunciando a decadência do Império. Promovendo um diálogo fértil entre sua argumentação e a riquíssima iconografia apresentada, a autora mostra de que maneira a monarquia brasileira tornou-se um mito não apenas vigoroso, mas extremamente singular.

 

“(…)’Concidadãos! Já temos pátria; temos um Monarca símbolo de vossa união e da integridade do Império, que educado entre nós, receba quase no berço as primeiras lições da Liberdade Americana, e aprenda a amar o Brasil que o viu nascer[…]'(…)”

Para conhecer o povo brasileiro e entender o porquê de certos comportamentos é essencial conhecer a história. É ela quem explica como chegamos onde estamos e porque temos certos costumes não vistos comumente em outras culturas. As Barbas do Imperador traz, além de informações riquíssimas em detalhes sobre a vida de D. Pedro II, um estudo interpretativo sobre a vida que as pessoas levavam em 1800.

É utilizado como analogia aos costumes da época o conto “A roupa nova do rei“, escrito por Hans Christian Andersen no século XIX, sobre dois habilidosos alfaiates que chegam ao reino e ficam encarregados de criar o novo traje do imperador. Esse traje é especial pois o material a ser empregado é tão precioso que somente os mais sábios e inteligentes poderiam vê-lo. Quando o traje está pronto o rei desfila com ele e todos se curvam, ficando provado que o traje é esplendoroso, mesmo que o próprio rei não possa vê-lo. Até que uma criança aponta e diz que o rei está nu e todos da corte percebem que é verdade, o rei está nu. Da mesma maneira se dá a coroação de D. Pedro II, que foi coroado mesmo tendo somente 15 anos e, diante de todo o ritual da coroação, onde foram utilizados elementos das coroações feitas em Portugal, porém acrescentando mais rituais (como os religiosos), ninguém pareceu perceber que na verdade o “imperador estava nu”: ele era só uma criança.

A coroação de D. Pedro II se fez necessária pois o Brasil, aos olhos de quem cercava a família real, precisava de uma figura que pudesse ser considerada divina e acima das leis dos homens para governar. Existia uma vontade de parecer civilizado aos olhos dos demais países e a monarquia era considerada mais civilizada que a república. Essas mesmas pessoas que queriam parecer civilizadas eram a favor do mercado de escravos, sendo que em 1849 havia no Rio de Janeiro 110 mil escravos entre os 250 mil habitantes.A política de imigração trouxe ao Brasil habitantes do mundo todo, principalmente após o término da importação de escravos. Isso deixava o país mal visto diante dos demais, já que ninguém acreditava em um país de “raças mestiças”.  Ou seja, todo o esforço para mascarar o Brasil como um país monárquico e civilizado acabava não se concretizando pela própria natureza do local, por ser quente, ser jovem e precisar de mão-de-obra de toda a espécie e também por ser pobre apesar das riquezas da terra.

Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga era o nome completo de D. Pedro II. Sua vida desde pequeno serviu aos interesses do império, tendo que estudar e aprender tudo o que julgavam que serviria para torná-lo um imperador melhor do que D. Pedro I foi. Diante de um imperador tão jovem as pessoas sentiam-se inseguras e isso era mascarado nas imagens que circulavam na corte, apresentando um jovem altivo e sereno, porém sem barbas (o que demonstrava a sua juventude). Quando o imperador finalmente passou a ter barbas a população respirou aliviada e já atribuiu sua segunda grande responsabilidade: o casamento e a geração de herdeiros.

A criação deste livro foi possível devido aos estudos feitos sobre a vida do imperador com a ajuda dos documentos deixados por ele mesmo. Foram mais de 20 mil fotos, retratos, óleos, xilografias e litografias distribuídos em museus. O livro é enriquecido com essas imagens da época e algumas são em cores. O papel utilizado é igual ao adotado para impressão de livros de arte de luxo, com folha branca plastificada. O espaçamento, revisão, tamanho da fonte e organização do texto estão impecáveis como é o costuma da editora Companhia das Letras.

Este livro é recomendado para quem tem interesse na história do Brasil, para estudos e pesquisa da época Brasil-império e também para entretenimento. Para conhecer o assunto a fundo recomendo essa edição. Uma versão resumida, com 144 páginas e o mesmo título foi lançada em 2014.

Franciely

É estudante de Letras por falta de melhor opção (já que não se pode ser somente estudante de literatura), leitora por prazer, amiga dos animais, viciada em internet e resenhista porque gosta de experimentar coisas novas.

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