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Resenha | Minha Coisa Favorita é Monstro – Emil Ferris

A história de um assassinato misterioso, um drama familiar, um épico histórico e um extraordinário suspense psicológico sobre monstros ― reais e imaginados. A história em quadrinhos mais impactante desde Maus.

Nome do Livro: Minha Coisa Favorita é Monstro
Autor(a): Emil Ferris
Editora: Quadrinhos na Cia
Ano: 2019
Páginas: 416
Resenhista: Ronan Sato

Com o tumultuado cenário político da Chicago dos anos 1960 como pano de fundo, Minha coisa favorita é monstro é narrado por Karen Reyes, uma garota de dez anos completamente alucinada por histórias de terror. No seu diário, todo feito em esferográfica, ela se desenha como uma jovem lobismoça e leva o leitor a uma incrível jornada pela iconografia dos filmes B de horror e das revistinhas de monstro.
Quando Karen tenta desvendar o assassinato de sua bela e enigmática vizinha do andar de cima ― Anka Silverberg, uma sobrevivente do Holocausto ― assistimos ao desenrolar de histórias fascinantes de um elenco bizarro e sombrio de personagens: seu irmão Dezê, convocado a servir nas forças armadas e assombrado por um segredo do passado; o marido de Anka, Sam Silverberg, também conhecido como o jazzman “Hotstep”; o mafioso Sr. Gronan; a drag queen Franklin; e Sr. Chugg, o ventríloquo.
Num estilo caleidoscópico e de virtuosismo estonteante, Minha coisa favorita é monstro é uma obra magistral e de originalidade ímpar.
“Uma das quadrinistas mais importantes do nosso tempo.” ― Art Spiegelman

“Magnífico, um livro monstruoso ― no melhor sentido da palavra.” ― Alison Bechdel

Grande vencedor do prêmio Eisner, o mais importante do quadrinho mundial, nas categorias Melhor álbum do ano, Melhor roteirista/desenhista e Melhor colorista.

Vencedora de prêmios Eisner e do Fauve d’Or de Melhor Álbum do Ano, conquistado no prestigiado Festival de Angoulême, na França, esta graphic novel foi desenhada somente com canetas esferográticas ao longo de cinco anos. Como se isso já não fosse uma proeza por si só, Emil Ferris, autora estreante, teve sequelas cerebrais por conta de uma doença chamada Febre do Nilo Ocidental e, mesmo com a capacidade motora de sua mão direita bastante reduzida, foi capaz de superar todas as dificuldades e entregar uma obra monumental, visualmente impactante e repleta de camadas de significado.

A protagonista desse suspense psicológico em estilo noir, ambientado na Chicago dos anos 60, é Karen Reyes, retratada como uma lobismoça que não vê a hora de se tornar desmorta (segundo ela, “feita de trevas, eternices e essas coisas”), e se libertar tanto do medo da morte quanto das “questões de autoestima” que afligem os humanos. Karen vive com sua mãe e seu irmão mais velho Diego Zapata Reyes, o “Dezê”, em um prédio de apartamentos dentre os quais está o de Anka Silverberg, sua gentil vizinha do andar de cima. Quando Anka aparece morta, tem início uma história de detetive que aos poucos vai revelando facetas obscuras dos personagens e da nossa própria sociedade.

A presença de temas como prostituição e o Holocausto fazem com que “Minha Coisa Favorita…” seja uma leitura mais indicada para o público adulto. Trata-se de uma história densa, por vezes pesada, mas também carregada de sensibilidade, como nos momentos que retratam as descobertas de Karen a respeito de si mesma e a relação da protagonista com sua mãe e com Dezê. Sempre que Anka é evocada, por meio das fitas cassete que deixou, a história muda de tom e somos levados a acompanhar sua cruel realidade, marcada por abusos e episódios de terror.

A quantidade de páginas e de texto entre as ilustrações requerem bastante dedicação caso o objetivo do leitor seja terminar a obra de uma só vez. Há momentos mais densos que pedem uma pausa para reflexão, mas isso não significa que o clima seja pesado do início ao fim. Essa graphic novel é tão incrível quanto desafiadora, e por algum tempo minha coisa favorita também foi monstro – logo eu, que não costumo ser fã de histórias com lobisomens, vampiros e outras criaturas das trevas. Por fim, é necessário chamar a atenção também para a qualidade da tradução entregue por Érico Assis e para o nível de detalhamento de cada uma das “folhas de caderno”. Simplesmente fantásticos!

Ronan Sato

Especialista em assuntos aleatórios. Apesar de descendente de japoneses, não sabe afirmar com certeza se prefere comida indiana ou sushi

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