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Vamos Juntas? – Babi Souza | Resenha

É um pequeno livro em estatura, mas grande no que leva muitas meninas e mulheres. É grande no que faz na vida de muitas mulheres, é enorme nas transformações dentro de cada uma e no aconchego que leva a muitas delas…

Não sei o que dizer sobre Vamos Juntas?, ou melhor, não sei como dizer, nem como passar tudo o que ingeri durante a leitura. Não conseguirei passar toda a emoção e empatia que senti durante a leitura de vários depoimentos de mulheres que passaram por abusos e várias outras repressões. Me identificar com algumas dores, medos e anseios, foi muito fácil, afinal, um dia fui só uma menina, hoje sou uma mulher, uma mãe de menina, alguém que continua cheia de anseios, cheia de medo, uma mulher que não teme apenas por si só nesse mundo de cão, mas que teme também pelo mundo que a minha filha irá encontrar quando tiver os seus 10, 11 anos.

Um mundo onde o machismo é crescente, onde “homens” não respeitam mais as mulheres. Onde andar de short curto é estar dando entrada para ser abusada física e oralmente. Onde a mulher é rotulada de várias coisas medonhas pelo seu jeito de ser, pelo seu jeito de vestir, pelos palavrões que ela pode dizer, pelos locais que frequenta para se divertir, pelas músicas que ouve, pelas amizades que tem, e por aí vai.

Não é porque eu escuto funk, que uso roupa curta nesse calor infernal, que podem me rotular de puta. Sou mãe de dois pequenos, casada a 11 anos, cuido dos meus com amor e tenho sim o DIREITO de me divertir com minhas amigas, de vestir meu short curto, de falar palavrão, de falar até mesmo minhas gírias. De não querer usar salto(sim, eu odeio!), de querer usar meus tênis de skatista, meus All Star, minhas molecas, minhas calças rasgadas, minhas roupas que não se combinam nunca. E SIM, isso não me fará ser menos mulher do que as que andam de saia lá no pé, que só escutam sertanejo e gospel, que só usam salto, que só sentam de pernas fechadas, que não entram em barzinho, que só frequentam os melhores restaurantes, que nunca descem até o chão nos churrascos em família, e por aí vai.

Mas Simeia, o que isso tem a ver com o machismo? Ou com o Feminismo?

É muito simples, muitas das vezes, o machismo se encontra em nós mesmas, nós mulheres julgamos as semelhantes pelo jeito que elas se vestem, pelos lugares que frequentam com as amigas, pelas músicas que elas ouvem, pelo cabelo que elas gostam de usar, pelas makes pesadas que elas usam, pela falta dela e até mesmo por um simples batom vermelho. E é aí que entra o projeto criado pela Babi Souza. Porque não nos apoiarmos mais, que pessoa melhor do que a própria mulher para entender a outra, para partilhar dos mesmos anseios e medos?

Muitas das vezes quando julgamos umas as outras, nos tornamos inimigas por nada, e nunca paramos para pensar que se nos juntássemos, e nos apoiássemos, conseguiríamos o mundo, seríamos imbatíveis. O movimento #movimentovamosjuntas nasceu dos medos da autora, medos esses que são os nosso mesmos medos. Quem nunca temeu pela própria vida enquanto voltava do trabalho, de um encontro com os amigos, da faculdade, e por aí vai? Eu li o depoimento dela de quando começou a ter essa ideia dentro de um ônibus e juro que chorei. Você segurar sua bolsa com força, ter que fazer cara feia enquanto está andando na rua a noite, porque assim você pensa que irá afastar os filhos da puta de perto de você, é uma coisa que TODAS nós fazemos. Você olhar para o lado e perceber que várias mulheres dentro do ônibus estão da mesma forma, te deixa mais temerosa ainda. O medo em nossos olhos, em nossos semblantes no ponto de ônibus, nas ruas desertas, na saída do shopping, do metro, da faculdade, é perceptível, e isso me fez ter muito ódio enquanto lia o livro.

E daí me veio a mesma pergunta que a autora se fez naquele dia em que criou o nome do projeto: Porque não andarmos juntas? Porque não nos unirmos, andarmos uma ao lado da outra se todas estão indo para o mesmo lado? E fiquei muito feliz quando li depoimentos de meninas e mulheres que começaram a fazer isso quando estão a noite nas ruas e veem outras mulheres andando na frente, do lado e atrás delas. Todos os depoimentos me tocaram de alguma forma e o que mais mexeu comigo, que me fez ver que realmente esse projeto é demais, foi o de uma moradora de rua que ao perceber o medo nos olhos de uma mulher na rua e perceber que ela olhava para trás com medo por estar sendo seguida, pegou no braço dela e disse:

– Você vai me pagar aquele lanche hoje né?

E quando as duas caminharam juntas para a padaria, a mulher com o braço agarrado pelas mãos da moradora de rua, ela teve uma surpresa quando ouviu a moradora de rua contar que havia conhecido o #Vamos Juntas? durante o programa da Fátima Bernardes e por isso resolveu ajudá-la também. Achei lindo tudo isso, e cara, percebi ali que o mundo tem jeito, o machismo tem jeito, nós mulheres temos jeito e que um dia, o mundo terá jeito e mais segurança para todas nós.

Hoje já sei o que farei quando estiver caminhando sozinha na rua e sentir medo quando perceber algum perigo, irei apresentar o projeto para a primeira mulher que ver no meu caminho, com certeza ela estará com os mesmos medos e anseios que eu, e aceitará a minha companhia. Porque não fazer o bem para mim e para o próximo? Não é preciso ser Feminista para apoiar a causa e levar segurança e Sororidade a outras mulheres e a você mesma.

E falando em Feminismo, muitas pessoas, muitas mulheres tem a visão bem deturpada do que é ser feminista, talvez por isso muitas odeiem a causa e não a apoiem. Eu sou prova disso, vejo tanta merda, tanto ódio sendo destilado pelas redes sociais por pessoas que se dizem feministas, que tomei raiva da causa e nunca me animei a correr atrás e ver realmente o que era. E caraca velho, adorei ter lido esse livro, a Babi explica tudo maravilhosamente, feminismo não é você odiar todos os homens da face da terra, não é você achar que as mulheres são melhores do que os homens, que devemos nos vingar de todos eles, mas sim, lutar por direitos iguais, pelo nosso lugar na sociedade e no mundo. Só de ter entendido isso, já abri meu coração para essa causa e com certeza me simpatizo com ela.

Enfim, espero que vocês tenham compreendido um pouquinho do movimento, um pouquinho do que esse livro representa, do que as palavras da Babi, uma jornalista séria, que foi atrás de tudo para viabilizar o projeto, que criou o movimento e páginas em vários estados, que escuta vários depoimentos por dia, que de alguma forma ajuda todas essas garotas e mulheres a vencerem seus medos e traumas, que vocês tenham compreendido um tantinho do que tudo isso representa e como é bom ser curiosa e pesquisar sobre o que realmente é o Feminismo, sobre o que ele representa, sobre o que o Feminismo SÉRIO realmente é, por quais causas as pessoas SÉRIAS envolvidas nessa luta realmente lutam.

Indico esse livro para todas as mulheres que passarem por aqui, para todas as mães que querem incentivar suas filhas a serem e fazerem o que elas quiserem, e ensinar aos seus filhos como tratar uma mulher e ser homem de verdade. Muitas vezes nós mesmos como mãe e pai desencorajamos desde cedo as meninas a serem o que elas quiserem e ensinamos sem perceber os garotos a serem machistas. Quanto aos homens eu indico o livro também, a leitura desse livro é uma forma de vocês homens abrirem os olhos e enxergarem o que TODAS nós mulheres passamos e perceberem o quão solidários vocês podem ser, mudando o modo de pensar, de agir e apoiar e respeitar as mulheres que você tem em casa e as que vocês encontram nas ruas também. Nem sempre o que é bacana, legal para vocês, é bacana e legal para elas, ou melhor, para nós.

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Que a Sororidade esteja com vocês. Vamos Juntas?

Vamos juntas?

Vamos Juntas?

Autor(a): Babi Souza
Editora: Galera Record
ISBN: 9788501107510
Ano: 2016
Nota: 4/5

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