Resenha: A biblioteca perdida do alquimista, por Marcello Simoni
Título: A biblioteca perdida do alquimista
Título original: La biblioteca perduta dell’alchimista
Tradutor: Gilson César Cardoso de Sousa
Autor: Marcello Simoni
Páginas: 368
Ano de publicação: 2013
Editora: Jangada
Avaliação: 4/5
Onde comprar: Com a editora ou Compare
Primavera de 1227. A Rainha Branca de Castela desaparece de forma misteriosa. Estranhos rumores se espalham pelo reino e alguns falam de uma intervenção diabólica. A única pessoa que pode resolver o enigma é o mercador de relíquias Ignazio de Toledo, conhecedor de ciências herméticas e notável por sua capacidade de resolver mistérios antigos. Em Córdoba, onde Ignazio foi convocado, ele encontra um velho mestre, que fala de um livro que todos procuram e que pode dar pistas sobre o desaparecimento. Porém, no dia seguinte, o mestre é encontrado morto, envenenado. A busca de Ignazio começa imediatamente. O encontro, em seguida, com uma freira e um homem considerado por todos um possuído, conduz Ignazio ao castelo de Airagne e a um misterioso homem, o Conde de Nigredo. Nesse local se oculta um terrível segredo, mas não será fácil sair dali com vida depois que ele for descoberto.
Por Jairo Canova
Ao terminar o primeiro capítulo percebi que minha principal reclamação do primeiro volume da série, O mercador de livros malditos (que você lê a resenha aqui), foi sanada neste A biblioteca perdida do alquimista: os capítulos são mais longos e frequentemente ao terminarem deixam curiosidade quanto ao desenrolar dos fatos – coisa que Marcello Simoni não conseguiu no primeiro livro.
Dez anos se passaram desde os acontecimentos de O mercador de livros malditos, Uberto agora não é mais um jovem que viveu trancado em um mosteiro: aprendeu esgrima e a usar um arco com Willalme, teve experiências com mulheres e já é tratado por Ignazio de Toledo com igualdade. Quem já leu o primeiro livro perceberá que deixei de comentar o mais importante item da relação dos dois, propositalmente; não por ser irrelevante, mas para o caso de alguém ler também esta resenha antes de começar a leitura da série.
O grupo liderado novamente por Ignazio Alvarez é convocado pelo Rei Fernando III para uma missão muito especial: resgatar a Rainha da França, Branca de Castela, que foi abduzida em estranhas circunstâncias. Parte do mistério está relacionado ao Turba Philosophorum, livro de alquimia atribuído a um dos discípulos de Pitágoras. Logo o mistério de Airagne, que na obra é uma das representações de Ariadne (mais detalhes aqui), prende o leitor em sua teia de conspirações, alquimia e conhecimento perdido. Destaque desta vez para Uberto, que recebe uma missão independente e parte sozinho para enfrentar seu destino, se tornando peça chave na trama enquanto o personagem toma rumos assombrosos.
Em nota histórica após a narrativa o autor explica que a maioria dos eventos citados durante o livro são reais, como as guerras da Rainha Branca de Castela contra condes rebeldes no sul da França, bem como as descrições arquitetônicas de castelos e mosteiros. Isso mostra o amplo estudo do autor para compor a obra historicamente apurada – mesmo que o sequestro que é tema central não conste em nenhum relato. Parte da pesquisa foi feita durante as publicações acadêmicas sobre história medieval, que eventualmente lhe deram a ideia da narrativa.
Marcello Simoni melhorou muito sua escrita para esse volume, esperemos para ver se ficará ainda melhor para o terceiro e último livro da trilogia, Il labirinto ai confini del mondo (O labirinto no fim do mundo, provavelmente). Em A biblioteca perdida do alquimista os personagens são apresentados com mais dilemas pessoais, dúvidas, incertezas e medos, o que raramente ocorria em O mercador de livros malditos, mas que dá grande profundidade e humanidade à obra. Ignazio Alvarez, antes inescrutável, agora é apresentado com sinais de que a idade avançada não lhe permite mais as peripécias da juventude, e Willalme, que jurou fidelidade eterna ao mercador, começa a ter vontade própria.
Mesmo sendo mais fino este livro tem muito mais texto do que O mercador de livros malditos, o papel usado é mais fino, a letra levemente menor e as linhas mais longas. Também há menos divisões de capítulos, que em O mercador de livros malditos consumiam várias páginas em branco para as transições desnecessárias.
Portanto, minhas reclamações desta vez são direcionadas à edição. Toda capa foi feita fielmente à edição original em italiano, então parte da culpa não é da Jangada, mas como já vimos vários livros que tem capas muito melhores no Brasil do que no original acabamos ficando exigentes. Primeiramente: na capa não há nenhuma indicação de que seja uma continuação, é apresentado como “Autor do best-seller internacional O mercador de livros malditos”. Apenas lendo a sinopse da contracapa sabemos que são os mesmos personagens. Fica a cargo do leitor pesquisar, mas se a dúvida aparece em uma livraria física eu diria que as chances de alguém se arriscar a comprar diminuem. A fonte das lombadas também não é a mesma e os livros têm tamanhos levemente diferentes. A imagem usada na capa é a mesma que na edição em italiano, mas como é muito obviamente feita em computador e parece um personagem secundário de Assassin’s Creed ela é feia em qualquer idioma.
Desta vez encontrei alguns erros de digitação, mas nada grave ou que atrapalhe a leitura.
Em A biblioteca perdida do alquimista não há tantas cenas de tortura quanto no primeiro volume da série, mas há muito sangue e morte, mantenho a recomendação da leitura para maiores de 16 anos.
Pelos comentários que li em outros sites, ninguém leu a Trilogia “Mercador de Relíquias” de Marcello Simoni, e os outros que se seguiram “A Ilha da Relíquia Sagrada” e a 2ª Trilogia. Ocorre que temos um vendedor de livros malditos, que não vende livros e nem são malditos, a biblioteca perdida do alquimista, que nem estava perdida e nem era do alquimista, que só aparece rápidamente nos últimos capítulos e, agora, o labirinto do fim do mundo, que igualmente é de pouca relevância neste 3º livro. Em resumo, Marcello tem uma dificuldade imensa de terminar os seus livros ( como se quisesse dizer “continua no próximo”, mas não). E à cada volume as estórias tornam-se mais descritivas e inúteis ao enredo. Citar fatos e locais históricos esparsos acaba confundindo o leitor e sempre há um grande vazio entre a proposta da obra e o que se apresenta. É como pegar uma receita de bolo de laranja e descobrir que não vão laranjas. Não recomendo nenhum deles.