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Beastars – O Lobo Bom | Crítica

Provando que boas histórias podem vir de qualquer lugar.

Tudo na vida é sobre sexo, exceto o próprio sexo, que sobre poder. A frase é atribuída ao escritor irlandês Oscar Wilde, mas pessoalmente nunca encontrei a fonte original. A despeito disso, dou um passo além e afirmo que tudo no mundo é sobre sexo… e sobre suas perversões. “Beastars“, anime lançado em 2020 pela Netflix, e que adapta o mangá homônimo escrita e ilustrada por Paru Itagaki, prova que mesmo do submundo daquilo que se poderia chamar de pornografia barata, pode surgir um conceito único e ligado ao nosso espírito do tempo.

Não se assuste, “Beastars” não é um anime pornográfico. Mas bebe de todo o imaginário do erotismo ligado ao furry, em especial nas publicações de nicho do mercado japonês para construir seu universo e seus personagens.
Primeiramente, o Furry é uma subcultura relacionada a animais ficcionais antropormofisados, ou seja, apresentando personalidade e características
humanas. Demonstrações de inteligência, expressões faciais personificadas, habilidades de fala, o andar bípede e vestir-se, são características de furry na ficção.

O poster promocional do anime

As pessoas que se interessam por esse estilo se reúnem em um grupo de fãs, chamado de furry fandom e um participante desse grupo é chamado de furrie. Nestes grupos são exercidas atividades culturais e muitas vezes os furries se reúnem em convenções, muitas vezes nacionais ou globais. Junto com esse movimento, surgiu o furry pornográfico. Usando desses personagens antropomórficos em quadrinhos e animações eróticas.

Ok. Depois dessa longa introdução (desculpem, mas necessária) vamos de volta à “Beastars”. Na trama, temos uma escola de ensino médio com animais de diversas espécies de animais que se dividem entre o grupo dos carnívoros e dos herbívoros. Neste mundo, uma sombra acompanha todos os indíviduos, pois é contra a lei os carnívoros se alimentarem dos herbívoros. Nesse contexto acompanhamos principalmente o Lobo Cinzento Legoshi, que se apaixona por uma pequena Coelha Anã, Haru. Desse envolvimento estranho e mal visto por sua sociedade, os dois lidaram com seus traumas no caminho rumo à vida adulta.

A metáfora é clara, por se tratar de um anime que não esconde os elementos da pornografia furry. A pequena coelha e o grande lobo são demonstrações claras da lógica predatória da pornografia japonesa e suas implicações nas mentes das pessoas. Especialmente dos homens. Legoshi é um predador envergonhado, que toda a sua vida reprimiu seus instintos de caça e violência, sempre para isso se colocando nas sombras de outros personagens. Mas através da relação com Haru, ambos expõem suas fragilidades e forças, contrapondo tudo que se espera socialmente de quem eles são.

Não bastasse isso, a autora (que jamais revelou seu rosto, sendo fiel à cultura furry) constrói todo esse subtexto dentro das convenções de gênero do shonen tradicional. A animação aproveita esse ritmo e oferece uma arte incrível que desperta emoção junto a uma trilha sonora maravilhosa.
Boa pedida para apenas se divertir ou para pensar com mais profundidade.

Observe a classificação indicativa.

Beastars – 2019

Adapatação do mangá de Paru Itagaki
Direção Shinichi Matsumi
Roteiro Nanami Higuchi
Música Satoru Kōsaki
Estúdio Orange
Distribuição/Licenciamento Netflix

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