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Fábulas Sombrias | Crítica (2020)

Em Fábulas Sombrias (Favolacce) encontramos um cinema de conto de fadas sem um príncipe encantado, onde os lobos com suas bocarras abertas são os verdadeiros mestres. Nota-se aqui uma linguagem que valoriza o ato de contar histórias e que, ao fazê-lo, se articula no espaço entre o imaginário e o que é mentira, enquanto questiona e reelabora algo que ficou no meio disso tudo.

Honesto desde o princípio, com um narrador que conta, em uma fala rebuscada que a história a seguir é parte do relato de uma garotinha, evidencia que talvez queles fatos não sejam reais, “ainda que não muito inspirados”. Com essa liberdade caractyerística dos contos a trama decide acrescentar, aqui e ali, notas de horror e vitalidade. 

Os irmãos D’Innocenzo , vencedores com esta obra do Urso de Prata de roteiro do Festival de Cinema de Berlim , aqui confirmam visivelmente as qualidades naturais que já mostraram antes em La Terra dell’Abbanzi e Dogman, onde o humor negro e angústia já tanto se fizeram presentes.

Aqui, provando uma incrível inclinação ao grotesco, os gémeos romanos assinam um filme com um sabor totalmente novo na atual fase do cinema italiano , dedicando-se intensamente à arte de contar histórias que tem suas bases nos nossos conceitos de virtude e das criaturas que dele também emergem.

 Fábulas Sombrias é o equivalente fílmico de um livro pop-up, ansioso por conceder tridimensionalidade à sua história, quase como se construísse um teatro de fantoches, subvertendo a ideia de verosimilhança do cinema mainstream. Aqui é como se os personagens estivessem presos pelos fios – e pelo roteiro – obrigados a procurar algo naquele específico em uma situação determinada sem uma razão maior que não seja fazer a história acontecer. ENtão, como se uma página virasse, tudo surge numa miríade confusa, condenando-os a fazer parte de um jogo deverdadeiro/falso que por fim se revela, em si, um grande engano. 

Apesar disso, o filme escorrega principalmente em seu final, que não decide se quer mergulhar nas ideias ali dispostas ou fazendo um apelo ao cinema comercial, deixando um gosto amargo ao final, de produto indeciso. No fim, para bem e para mal é um filme de pura narração, povoado por feras niilistas e inacabadas. 


Fábulas Sombria
Título Original: Favolacce
Ano: 2020
Direção: Damiano D’Innocenzo, Fabio D’Innocenzo
98 minutos
País: Itália/Suíça

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