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Boca a Boca | Crítica

Tenho a impressão que existem forças ocultas que se movem ante o senso comum para convencer a população brasileira de que nossas produções audiovisuais não possuem qualidade. Por isso, de tempos em tempos surgem novas produções que caem no gosto do povo que diz sempre: Agora o cinema brasileiro está melhorando. É assim com as produções seriadas da Netflix, que encontra um novo expoente em “Boca a boca”, bebendo da fonte oitentista que ainda tem seus fortes traços na gigante americana.

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Verdade seja dita, temos aqui um fenômeno novo, mas que nada tem a ver com a qualidade das obras. O que acontece hoje no mercado audiovisual brasileiro é uma descentralização bem vinda. Se até uma década atrás, a Globo e suas escolas de profissionais eram a única maneira de viabilizar uma produção, em geral seguindo um padrão estabelecido das produções de grande público televisivas. Hoje, é diferente. Quando a Netflix apresentou “3%” a série teve recepção morna no Brasil, mas se tornou um grande sucesso no exterior, abrindo um modelo de negócios interessante. Assim, como sua predecessora no canal de streamming, “Boca a boca” tem uma estética vistosa e uma trama que instiga a cusiosidade.

Na trama, acompanhamos o surto de uma doença entre um grupo de jovens que estuda numa escola modelo da cidade de Progresso, no interior do Brasil – Não é possível saber exatamente onde, mas a cultura pecuarista lembra bastante o sudeste e centro oeste do país. Transmitida pelo beijo, aqueles que são contaminados passam por um processo de degradação dos seus sentimentos e em geral terminam mortos, não sem antes passarem por um processo de maquiagem neon que faz parte da estética que foi citada um paragrafo acima. Comentários sociais são feitos nos vários núcleos enquanto a trama principal do mistério se desenvolve.

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“Boca a boca” surge nesse cenário e de maneira curiosa, como um reflexo bem vindo do momento que vivemos com a pandemia de Covid-19. Ao longo dos episódios, vamos pessoas que negam a doença e outros que tentam varrer sua existência para debaixo do tapete, e ainda aqueles que por uma moral conservadora, veem na “promiscuidade” dos jovens a razão para tal tragédia. Também é póssivel notar que, de maneira superficial, também há um comentário sobre a ingenuidade do jovem diante de um mundo que, sim, pode ser tão perigoso a medida que se conquista a liberdade, embora isso se dilua nos episódios finais em prol de criticas mais explicitas ao mercado.

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A série parece um ensaio, trazendo influências de séries de sucesso – narrativamente, com “Stranger Things”, e conceitualmente, com “Skins” – e incorporando elementos das séries tradicionais do Brasil e estilo proveniente das experimentações de festivais nacionais. Com um corpo de atores competente, que mistura grandes nomes com estreantes que não brilham mas apontam uma direção interessante para o futuro. Fiquem de olho nesses jovens. Tem como grande defeito, porém, a falta de substância, o que torna todas as discussões rasas e comete erros e facilitações no seu final, contando com uma segunda temporada para trabalhar ganchos que soam forçados. Fazem pensar que, se a série tivesse optado por ser apenas uma leve diversão ou se tivesse mergulhado nos comentários políticos, seria uma obra mais coesa.

Assista a série aqui.

Boca a Boca

Distribuidora: Netflix
Ano: 2020
Direção: Esmir Filho, Juliana Rojas
Roteiro: Esmir Filho, Juliana Rojas, Marcelo Marchi, Jaqueline Souza, Thais Guisasola
Elenco: Iza Moreira, Michael Joelsas, Caio Horowicz, Denise Fraga

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