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Em nova mostra do Cine Humberto Mauro, destaque para a obra do mestre francês do suspense HENRI-GEORGES CLOUZOT

O Cine Humberto Mauro exibe, de 15 a 21 de agosto, a mostra Henri-Georges Clouzot, reunindo quatro longa-metragens do mestre francês do suspense e dois documentários sobre sua vida e obra. Figura polêmica para o público e crítica, Clouzot marcou a história do cinema europeu e mundial com clássicos como As Diabólicas e O Salário do Medo, chegando a ser considerado o “Hitchcock francês”. Resultado da parceria com a Aliança Francesa Belo Horizonte, Cinemateca da Embaixada da França no Brasil, Embaixada da França no Brasil e Institut Français, a mostra chega ao Cine Humberto Mauro com cópias restauradas em Digital Cinema Package – DCP 4K, ou seja, em altíssima qualidade.

Clouzot iniciou sua carreira no cinema como roteirista, escrevendo e traduzindo scripts e diálogos para estúdios alemães, onde foi muito influenciado pelo expressionismo. Segundo Vítor Miranda, curador da mostra juntamente com Bruno Hilario, gerente do Cine Humberto Mauro, o envolvimento do cineasta com a Continental Filmes, produtora alemã que exerceu atividades durante a ocupação da França manchou sua carreira. “Embora atualmente seja considerado por muitos o pioneiro de diversas técnicas de suspense no cinema, Clouzot não foi reconhecido na época por outros cineastas franceses, principalmente os da Nouvelle Vague“, conta Vítor. Frequentemente comparado a Alfred Hitchcock, seu rival, Clouzot compartilhava com o americano o gosto pela tensão, choque e violência, além da rispidez com a equipe no set de filmagem.

A trajetória do diretor foi marcada por diversos problemas de saúde que o mantiveram afastado do ofício do cinema, chegando a ficar cinco anos internado num sanatório para tratar tuberculose, tempo em que se dedicou aos estudos de recursos narrativos para melhorar seus roteiros. Este período influenciou fortemente suas produções, que denotam uma forte crítica à humanidade com seus protagonistas movidos pela ganância, luxúria e sadismo.

O Inferno de Henri-Georges Clouzot – 1.jpg

Apesar de desconfortável em trabalhar com os alemães, Clouzot precisava de dinheiro e lançou seu primeiro sucesso, O Assassino Mora no 21 (1942), pela produtora Continental Films durante a II Guerra Mundial. No longa, o diretor começa a trabalhar suas técnicas de suspense, utilizando espaços claustrofóbicos e a estética noir, além de culpabilizar o espectador uma das primeiras vezes na história do cinema. “Trata-se de um recurso cinematográfico em que, com o uso de câmera subjetiva, o espectador tem conhecimento de algo que os personagens não sabem, colocando-o na posição de cúmplice de um assassinato, por exemplo”, explica Vítor. A trama acompanha um inspetor que decide se disfarçar de pastor e alugar um quarto numa pensão após ter a pista de que o assassino que procura está hospedado no local.

O Salário do Medo – 2.jpg

Na programação consta também o grande sucesso de Clouzot, O Salário do Medo (1953), que rendeu a ele a Palma de Ouro, em Cannes, e o Urso de Ouro, no Festival de Berlim. “Neste filme Clouzot eleva sua técnica de suspense à um nível de tensão extremo em que o espectador se sente, também, dentro de um caminhão com carga de nitroglicerina por uma estrada precária”, observa Vítor. O longa retrata a jornada de um grupo de homens que, em troca de dinheiro para melhorar de vida num vilarejo pobre da América do Sul, transportam nitroglicerina por 500km cheios de adversidades para apagar um incêndio.

Com um dos mais célebres e surpreendentes finais da história do cinema, As Diabólicas (1955) mistura elementos do suspense e terror, e levou milhões de espectadores às salas de cinema. O filme é considerado atualmente um clássico do suspense, cuja trama envolve o plano maligno da esposa e da amante de um terrível diretor de escola. Elas decidem mata-lo usando um álibi perfeito, mas o corpo desaparece. Aqui, sua técnica de revelar ao espectador o que os personagens não sabem é elevado em seu ápice em várias camadas desenvolvidas pelo filme. O próprio Alfred Hitchcock tentou comprar os direitos do filme para produzi-lo, mas foi Clouzot quem acabou por dirigir o longa. Há quem diga que o americano se inspirou na obra de Clouzot para produzir Psicose (1960), e ambos os filmes possuem icônicas cenas de assassinato em banheiros, mais uma coincidência que aproxima os dois diretores.

A última obra de Clouzot na mostra é o documentário O Mistério de Picasso (1955). “Esse é um filme incrível que acompanha o processo de criação de Pablo Picasso do início ao fim. O artista pintou 20 telas especialmente para a produção de Clouzot”, conta Vítor Miranda. No longa, o francês explora a dimensão do fazer de Picasso, filmando o pintor de 75 anos desenhar numa superfície semitransparente antes de explorar colagens e tintas à óleo. Diferentemente de outras produções de Clouzot, voltadas para a sua fascinação pela perversidade humana, o documentário oferece uma espécie de captura dos momentos de inspiração e beleza de um dos maiores artistas de todos os tempos.

Na programação do Cine estão, também, os documentários O Escândalo Clouzot (2017) e O Inferno de Henri-Georges Clouzot (2009). Enquanto o primeiro traz um olhar biográfico sobre sua conturbada e controversa carreira cinematográfica, bem como seus métodos tirânicos com seus elencos, o segundo explora o longa inacabado O Inferno (1964), seu único filme a cores e uma das mais caras produções francesas da história, retratando um conturbado relacionamento afetado pelos delírios ciumentos do marido. O longa de caráter experimental seria uma tentativa de Clouzot para ser reconhecido pelos cineastas da Nouvelle Vague.

História Permanente do Cinema – Em uma das sessões previstas para o mês de agosto, da mostra História Permanente do Cinema, o CHM exibe, também, Comboio do Medo (1977), refilmagem americana do longa de Clouzot, dirigida por Willian Friedkin. A sessão seguinte será de Marnie, Confissões de Uma Ladra (1964), de Alfred Hitchcock. 

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