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Livro – Heresia

Heresia (Heresy)
Autora: S. J. Parris
Editora: Arqueiro
Páginas: 364 
Lançamento: 2011

Inglaterra, 1583: o país enfrenta um período conturbado. Em meio a um clima de conflitos religiosos, o monge italiano Giordano Bruno chega a Londres, tentando escapar da Inquisição. Quando um dos membros mais antigos de Oxford é brutalmente assassinado, a missão secreta do filósofo é desviada de seu curso.

Resenha escrita por Rafael Assis

Coincidência que a leitura desse livro tenha sido concluída dias antes do anuncio da primeira foto de um buraco negro. Embora não possa ser tratado como um cientista em estrito senso, Giordano Bruno foi um pensador relevante para o desenvolvimento da ideia de um universo muito maior do que o concebido por seu tempo. Fato que não ocorre com esta ficção baseada em sua vida. 

S. J. Parris deve ter feito uma pesquisa história honesta sobre o personagem que queria adaptar, mas nota-se também um forte apelo – talvez do editor, talvez da autora – de pegar carona no estilo de intelectualidade de plástico popularizado por Dan Brown. Há aqui, como em todos os Códigos Da Vinci os fatos históricos e as referências obscuras à arte, filosofia – aqui teologia – que os leitores habituais não conhecem, mas que possuem a profundidade de uma poça d’água num dia de sol. Nota-se isso também pelo uso dos linguajares que ora usam um tom formal de peça teatral escolar para  esconder os modos completamente contemporâneos dos personagens. 

O truque aqui é duplo, aproxima-se a trama de um público mais jovem ao passo que se simplifica a narrativa que, se tratando da aristocracia inglesa do século XVII, teria minúcias e detalhes desnecessários a um simples mistério de época. E funciona, em parte. Se por um lado isso torna a leitura mais suave e atrativa, mesmo àqueles que já conhecem a história de Bruno e captem os problemas, a falta de ritmo do livro pode incomodar justamente esses leitores juvenis, hoje menos propensos a aceitar algo que seja diferente da tensão ininterrupta que as adaptações cinematográficas do gênero os educaram a esperar. 

A trama em Heresia se cadencia lentamente, desdobrando-se com o peso da consciência de seu protagonista e não com a urgência dos riscos que ele corre e esse tom “filosófico” caberia melhor em uma obra um pouco mais autocontida. Não fosse o ímpeto de produzir uma série a partir deste livro talvez ele pudesse se propor a ser mais lento, mais sofisticado e atingir um outro público. Parado a meio caminho da literatura histórica e do best-seller, Heresia parece não agradar plenamente a ninguém. Mas agrada.

Muito se fala sobre as diferenças entre a “alta literatura” como uma coisa inalcançável e quase divina, assim como também o era para Bruno em seu tempo. Hoje, ele enfrenta novo desafio pois não raros são aqueles que apontam os dedos para sua doutrina que hora desafiava os dogmas das igrejas – católicas e protestantes -com um pensamento racional genuíno, ora entregava ao misticismo antigo mesclando-o a uma versão particular
do cristianismo. Para Bruno, essas duas coisas não se distanciavam, pois tanto se podia alcançar o entendimento do céu pela razão ou pela antiga sabedoria. Talvez também seja assim com a literatura.

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