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Resenha | Serial Killers – Anatomia do Mal

Texto publicado originalmente em Cultura em Crônicas em 30 de setembro de 2014

Serial Killers anatomia do mal Harold Schechter Darkisde

Serial Killers – Anatomia do mal
Autor: Harold Schechter
Páginas: 480
Editora: Darkside

Entre na mente dos psicopatas neste compilado de crimes, biografias, modus operandi e outras narrativas dos mais famosos criminosos do mundo.

Ódio e loucura levados ao extremo. Essa pode ser uma boa frase para definir o livro Serial Killers – Anatomia do Mal lançado pela Editora Darkside. Em 480 páginas, o autor Harold Schechter faz um apanhado de assassinatos cruéis em todo o mundo, na atualidade e no passado, nos proporcionando enxergar de maneira profunda o universo psicótico em que esses “monstros” vivem.

Na introdução, vemos a definição do tão usado termo serial killer, suas origens e a diferenciação entre assassinato em série, em massa e relâmpago, termos que possuem uma linha tão tênue no significado, que nos confundem. Outra diferenciação apresentada também, é entre psicótico (alteração do funcionamento psíquico) e psicopata (perversidade).

Ao longo do livro nos deparamos com ilustrações em pontos variados das páginas, todas diretamente ligadas ao tema, como o desenho acima, de um bisturi.

As raízes do fenômeno serial killer

Em vários momentos, o autor aborda o fato de que sempre acreditamos que o serial killer é um fenômeno da modernidade, pela associação ao termo que é amplamente usado desde as décadas de 1960/70. Porém, o que ele observa é que, com o caso mais famoso de todos os tempos – a série de assassinatos em Whitechapel, cometidos pelo alcunhado Jack, o Estripador -, o assassinato recebe grande destaque, já que coincide com um período em que o crescimento da divulgação da imprensa está em seu auge. A fácil veiculação da informação e o acesso de todas as camadas da sociedade popularizaram o fenômeno, mas se prestarmos bem a atenção, esses atos já são cometidos há muito tempo, vide os contos de fadas, pois os mitos criados – monstros, bruxas e bestas – são nada menos, em várias situações, que relatos fantasiosos de atrocidades, que de tão irreais para as pessoas, foram vinculados a seres inimagináveis, como maneira mais simples de justificar esses atos hediondos.

Como o acesso à informação nos séculos anteriores ao XIX, limitava-se à nobreza, que era a única parte da sociedade alfabetizada, muitos casos de assassinatos não foram registrados, exceto pela tradição oral. Daí surgiram as murder ballads (baladas de assassinos), que era o modo como os camponeses trocavam informações sobre o que acontecia em outras regiões, com as pessoas comuns, como eles.

Página dupla sobre o “serial killer” John Wayne Gacy. Nesta parte do livro, outros assassinos – os mais conhecidos – são brevemente biografados. Podemos encontrar aqui nomes como Albert Fish, Ed Gein e Jeffrey Dahmer

Tipos de assassinos

Temos capítulos dedicados a variados tipos de psicopatas, dividindo-os em grupos de acordo com algumas características, como grupos, famílias, duplas (unidos em prol do mal), mulheres e afro-americanos (já que existiu por muito tempo a ideia de que o perfil do serial killer era o homem caucasiano, erro difundido graças a análises baseadas apenas no biótipo norte-americano), crianças e adolescentes (casos em que o culpado demorou a ser identificado por não se acreditar na maldade em alguém tão jovem).

Também temos casos fora da América do Norte, provando que, apesar de ser uma “mania” nos Estados Unidos a ampla divulgação dessas situações, o instinto destruidor existe em qualquer nação ou comunidade, já que é um comportamento isolado de um indivíduo e não de uma cultura.

Outros capítulos correlacionam variados fatores que podem influenciar nesse comportamento: sexualidade (sadismo, perversões, pedofilia, gerontofilia, necrofilia, canibalismo), danos cerebrais, abuso infantil, pornografia, lucro, fantasia, adoção, hereditariedade, imitação, fanatismo religioso.

As possibilidades são tão amplas que é difícil definir o que pode transformar uma pessoa comum em psicopata, ou quais fatores fazem alguém nascer assim.

Outro aspecto atrativo do livro são os grifos, em amarelo, ao longo do texto que, além de dialogar com a faixa de crime scene, remete a marcações de aspectos importantes do crime, como se um leitor anterior já nos desse dicas do que observar com atenção.

Presa X Caça

Observa-se que os psicopatas se relacionam com suas vítimas, como um caçador se relaciona com sua presa, gerando assim uma infinita possibilidade de alvos: ao acaso, predefinidas, capturadas através de armadilhas, ataques ritualísticos, etc.

Seus métodos de ataque e execução são variados, indo do veneno ao ataque com as próprias mãos, passando por armas brancas, de fogo e tortura.

A assinatura, tão popular nos filmes e séries, nem sempre existe, porém os troféus são mais comuns, normalmente utilizados como meio de reviver o ato e reprisá-lo em sua mente.

A luva dessa edição é parecida com a faixa de isolamento das cenas de crime.

Vítimas preferidas

Outro fato citado no decorrer da obra, é a preferência pelas chamadas “presas fáceis”, os conhecidos grupos de riscos. Ao assassinar moradores de rua, população pobre, prostitutas, viciados, minorias étnicas e homossexuais, torna o assassino mais poderoso, já que esses chamados grupos de risco são os que não são notados e poucas vezes investigados, a não ser que eles estejam na posição de suspeitos. Há o caso de um assassino que passou 7 anos caçando em cidades do Peru, Equador e Colômbia, crianças de comunidades pobres, onde a polícia era mal articulada e com falhas no contingente.

Violência atualmente: mito ou verdade?

É abordada no texto, a constante suposição de que a violência atualmente aumentou, devido à quantidade de casos relacionados a serial killers ou assassinatos relâmpago que são divulgados. O autor esclarece que essa violência sempre existiu, crescendo proporcionalmente ao aumento da população. A diferença é que, hoje, o acesso à informação é muito maior.

Além dos textos de Schechter, o livro também apresenta uma das narrativas – sobre Carl Panzram – em forma de quadrinhos, adaptada e ilustrada por Joe Coleman

Quanto a dizer que as pessoas, apenas hoje em dia, têm uma grande curiosidade mórbida, é uma mentira, pois há registros de músicas, textos e folhetos distribuídos e divulgados há um longo tempo, onde desde assassinatos sem resolução, a crimes e suas punições (execuções através de forca, tiro, guilhotina, etc.), sempre atiçaram a curiosidade de toda e qualquer comunidade no planeta. Boletins, jornais e folhetos sempre serviram como fonte para os curiosos sobre esses assuntos.

O livro é repleto de marcações que destacam trechos do texto, como se fossem grifados com uma caneta marca texto. Há, no decorrer dos capítulos, de acordo com o tema abordado, um “Estudo de Caso”, com imagens dos assassinos, datas de nascimento e morte e tipo de técnicas usadas em suas atrocidades, além de uma breve biografia. Há também ilustrações de livros de anatomia (algumas não creditadas, o que é uma pena), que abordam o assunto, jornais, imagens de TV, cópias de cartas e bilhetes (cartas codificadas do Assassino do Zodíaco e carta “Do Inferno” de Jack, o Estripador), folhetos e cartazes. Ao fim de cada capítulo há uma lista com diversos títulos de livros sobre o assunto.

Uma leitura intensa, porém bem esclarecedora sobre o tema. Não recomendado para pessoas sensíveis, há abordagens chocantes. Adquira aqui seu exemplar.

Nota: 5/5

Yasmine Evaristo

Artista visual, desenhista, eterna estudante. Feita de mau humor, memes e pelos de gatos, ama zumbis, filmes do Tarantino e bacon. Devota da santíssima Trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch, sempre é corrompida por qualquer filme trash ou do Nicolas Cage.

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