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GOT: a maior de todas foi a que mais decepcionou?

A série Game Of Thrones é inegavelmente um grande sucesso e aprendemos muito com suas polêmicas.
                                          *escrito pelo colunista convidado Carlos Dias

Quem de nós ainda não se derramou em sorrisos de vergonha alheia pelos inúmeros vídeos em que pessoas compram itens pela internet, mais especificamente nos sites orientais de venda, e na hora de receberem o produto tão desejado, vem a frustração hehe; roupas menores, caixas com tijolos, aparelhos eletrônicos sem funcionar.

Pois é, entramos na famosa sentença: Expectativa x Realidade.

Com o advento do streaming, onde pagamos pelo conteúdo que queremos consumir, estamos meio que ultrapassando os limites, e achamos que também temos o direito de pagar pela forma que este conteúdo é feito.

Alimentamos nossas expectativas, e como fãs, queremos que os autores e roteiristas nos entreguem algo da forma que queremos. Daí vem a frustração. Atores diferentes, épocas diferentes, tramas diferentes. 

Como lidamos com isso?

Vai aí uma referência fresca para exemplificarmos. A famosa serie Game of Thrones, uma das mais assistidas em todos os tempos, cerca de 13,6 milhões de expectadores em sua última temporada, ultrapassando a famosa quarta temporada de Família Soprano com 13,4 milhões de expectadores.

Difícil, para os fãs assíduos e quase viciados, que pelo mundo inteiro fechava bares para assistirem ao vivo os episódios semanais, a senhora HBO ficava muito feliz aos domingos.

Como eu, (que uso camisas personalizadas da série até hoje), ainda estou com saudades das sensações e sentimentos que o sr David Benioff imprimia com seu roteiro cheio de uma trama ardilosa, interpretada por atores que se entregaram completamente aos seus personas.

Acompanhamos no início, uma história que nos entregava política e planos feitos na surdina sempre visando o tão desejado trono de ferro. Era mais uma série épica, mas não foi só assim, com a chegada das temporadas seguintes, e a profética frase tão repetida: …” winter is coming…” o inverno está chegando… nossa consciência começou a ser levada para um reino magico, onde mortos vivos, lobos gigantes e os amados dragões começaram a surgir.

E assim fomos empurrados para uma luta entre os vivos e os mortos. Agora temos impressos em nossas memorias personagens como o querido John Snow, a temida Rainha Cersei, o matador de reis Jaime Lannister, seu filho incestuoso e o mais detestado personagem já criado em uma série Joffrey Baratheon. Mas quem não se apaixonou pela mãe dos dragões, Daennerys Targaryen, uma moça tao delicada com seus cabelos prateados que não se sabe como conseguia montar nas costas de um dragão que voava pelos ares cuspindo fogo quase que na velocidade de um caça.

Mas tudo era muito perigoso, pois o nosso velhinho preferido, sr George Martin (criador/autor dos livros que deram origem a serie) brincava com nossa mente quando nos fazia se apegar aos seus personagens que sempre inesperadamente deixavam de existir.

Quando começávamos a nos apaixonar e se identificar com os mesmos, POW!!!!, la vinha um machado no pescoço ou uma facada durante um jantar.

Quem não se lembra da morte de Ned Stark? Ou da carnificina de uma mulher gravida e do assassinato em massa durante o casamento vermelho? E da cabeça do nosso querido Oberyn explodindo nas mãos do odioso sör Gregor, o Montanha? Mas se você é com o eu, pai de PET, chegava a derramar um líquido salobre pelo canto dos olhos quando os lobos eram mortos, ou quando o belo dragão Viseryon caiu dos ares com uma lança que lhe atravessou o peito lançada pelas mãos do temível Rei da Noite.

Quase não sobraram personagens na série, e os que sobraram, nos apegamos eles, e queríamos que os mesmos seguissem o caminho que nossas mentes apaixonadas os guiassem.

Mas não foi assim, com o fim da tao aclamada oitava temporada…atenção spoiler…veio a morte da nossa rainha loira, esfaqueada pelo herói da série, que então tao promissor, foi banido para um mundo gelado. 

Até agora estamos esperando por mais um capítulo, talvez um que a HBO não colocou no ar, e foi esquecido pela produção em uma gaveta, que nele conteria o verdadeiro fim que tanto esperamos. Sonho.

A internet foi a loucura, afinal, como pôde o autor escrever algo que não passou pelo crivo dos fãs? Como pode um estúdio de TV não levar em conta a opinião da audiência? Os assuntos nas redes sociais era “boicotem”, refaçam o final.

Mas isso não foi possível, acabou, tivemos de engolir e tratar do assunto internamente com nossos terapeutas.

Sei que vivemos tempos em que tudo pode ser comprado, da maneira que queremos e na velocidade que podemos, mas não é assim com a arte. Ainda não temos o controle criativo de mentes alheias, que despejam seus desejos criando histórias para que meros mortais como nós possamos por cerca de 1h10 nos entreter defronte aos nossos televisores, no aconchego dos nossos sofás.

Mas acredito piamente, que estamos mudando, nossos traumas nos ensinam a aceitar o desenrolar das series com mais aceitação. Estamos aprendendo que o que acontece na telinha é fictício, os personagens não são reais, terras mitológicas não existem, dragões não cruzam os céus e pessoas não viajam no tempo. E que o roteiro não é capaz de mudar a nossa realidade para o bem ou para o mal, nosso chefe não vai nos demitir na segunda feira, quando seu personagem favorito for assassinado na noite anterior. Espero.

Agora estamos vivendo o aguardado início da segunda temporada de Casa do Dragão, o prequel de Game Of Thrones, eventos que se passam 172 anos antes da série. Daí voltamos ao dilema, será que vamos levar para o lado pessoal, e tentar mentalmente oprimir os roteiristas a fazerem magicamente nossa vontade? A fim de levarem os caminhos dos mitos para o desfecho eleito pela maioria?

Calma lá gente! Já vemos que os personagens não estão pra brincadeira, e a trama continua maravilhosa, sem falar dos dragões, ah os dragões, ainda mais maravilhosos que seus descendentes, são um show à parte.

Sejamos honestos, deixemos nosso coração aberto para receber aquilo que nos for dado, e que possamos sentir com honestidade a profundeza da história, aceitando até com frieza o que não esperamos.

Vida longa a liberdade da arte! Viva a ficção! 

Segue um trecho da oração da Serenidade, usada pelos alcóolicos anônimos.

…me dê serenidade para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que eu posso, e sabedoria para discernir uma das outras…

DRACARYS.

6 thoughts on “GOT: a maior de todas foi a que mais decepcionou?

  • Jaime Luiz

    Depois do casamento vermelho, que numa única cena todos os personagens que eu gostava morreram, e na batalha final mais escura do que uma cidade em blackout, minha cota de desilusões cessaram. O mais incrível é perceber que mesmo nossos personagens favoritos morrendo, não havendo uma boa entrega da batalha mais esperada da série, e com um final nada satisfatório, ainda assim estivemos diante da melhor série de todos os tempos.

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  • Que análise detalhada e profunda. Eu ainda não assisti a série, mas estou comprando os Boxes para poder maratonas, sua resenha me deixou bem curioso e não espero a hora de iniciar, pois essa série até hoje é muito discutida entre as pessoas.

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  • Eu ainda não assisti essa série, mas vejo as pessoas falando tão bem que agora quero ver. E a sua resenha está tão boa, muito bem detalhada que só aguçou ainda mais a minha vontade, parabéns pela ótima análise.

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  • até hoje me questiono desse final, mas realmente GOT abriu portas, depois de matarem todo mundo na série e terem tamanha fama outros seguiram e agora tem um monte de obra com personagens bons e amados sendo mortos kkkk. GOT abriu uma porta dificil de fechar kkk.

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  • Olá,
    Nunca assisti nada de GOT mas lembro do quanto as pessoas ficavam empolgadas, seja as que gostavam muito até as que criticavam muito, mas ninguém pode negar que foi um sucesso sim.

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  • Já ouvi muito se falar desta série e a sua abordagem a despeito dela por aqui também se torna muito interessante. Porém, não assisti ainda, não é muit omeu estilo de serie e acaba decepcionando quando leio sobre a decepção dos fãs.

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