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Livro: “O Tempo Desconjuntado”

Titulo: O Tempo Desconjuntado

Título original: TIME OUT OF JOINT

Autor: Philip K. Dick
Tradução: Braulio Tavares
Capa: Celso Longo
Páginas: 272
Formato: 14.40 X 21.60 cm
Peso: 0.435 kg
Acabamento: Capa dura
Lançamento: 04/06/2018
ISBN: 9788556510662
Selo: Suma de Letras

Apresentação: Com edição especial em capa dura e projeto gráfico arrojado, uma obra inédita de Philip K. Dick chega ao Brasil, trazendo um retrato único da construção do medo, da desconfiança e da própria realidade.
Ragle Gumm tem um trabalho bastante peculiar: ele sempre acerta a resposta para um concurso diário do jornal local. E quando ele não está consultando seus gráficos e tabelas para o trabalho, ele aproveita a vida tranquila em uma pequena cidade americana em 1959. Pelo menos, é isso que ele acha.
Mas coisas estranhas começam a acontecer. Primeiro, Ragle encontra uma lista telefônica e todos os números parecem ter sido desconectados. Depois, uma revista sobre famosos traz na capa uma mulher belíssima que ele nunca tinha visto antes, Marilyn Monroe. E para piorar, objetos do dia a dia começam a desaparecer e são substituídos por pedaços de papel com palavras escritas, como “vaso de flores” e “barraca de refrigerante”. A única alternativa que Ragle encontra para descobrir o que está acontecendo é fugir da cidade e de todos esses acontecimentos bizarros, contudo, nem a fuga nem a descoberta serão tão fáceis quanto ele imaginava.

Philip K. Dick (“PKD”), autor de ficção científica responsável por “O Homem do Castelo Alto”“Androides sonham com ovelhas elétricas” e “Ubik”,entre outras obras que lhe alçaram à condição de referência no gênero, traz em “O Tempo Desconjuntado” um questionamento acerca dos limites da realidade. Seu protagonista, Ragle Gumm, é um sujeito com uma ocupação bastante pitoresca, por assim dizer: ele dedica seu intelecto à resolução de charadas para um concurso, chamado “Onde está o homenzinho verde?”, promovido por um jornal local. Acontece que o sr. Gumm tem sido o campeão desse jogo — que mistura lógica e associações livres — há mais de dois anos, e isso faz com que toda a cidade o celebre como um ídolo. Afinal, ele não passa um dia sem terminar sua participação (sempre correta, sabe-se lá como) a tempo de enviá-la pelo correio.

Essa rotina banal acaba sendo perturbada por alguns acontecimentos sem explicação aparente, e PKD é competente, como de costume, ao aplicar seu senso de humor sarcástico para descrever eventos que ocorrem na fronteira entre o real e a fantasia. Veterano de guerra, Ragle Gumm começa a ficar paranoico— e quem não ficaria?— ao notar que, por exemplo, só ele dentre toda as pessoas viventes parece desconhecer a existência de Marilyn Monroe, talvez a maior celebridade da época. A percepção é de que todo o universo em volta dele fora minuciosamente construído para que ele não descobrisse quem realmente é (e isso pode ser um tanto perturbador se pararmos para pensar a respeito). Para Gumm, tudo não passa de algo criado por seu vizinho, Bill, um funcionário da prefeitura com quem não mantém uma relação das mais amistosas.

Apesar da premissa ser interessante, a leitura demora um pouco para engrenar. PKD, ao retratar os Estados Unidos da época do pós-guerra, se distancia um pouco das distopias e tenta criar uma narrativa em torno do americano médio, cujo cotidiano nem sempre é marcado por muitas emoções. As descrições dos personagens e dos conflitos entre eles acabam se arrastando por mais páginas do que o esperado, mas o ritmo muda quando o leitor finalmente conhece o mistério que o protagonista precisa solucionar. O tempo está fora dos trilhos, correndo em separado dos acontecimentos, e a referência do filme “O Show de Truman” surge naturalmente quando a ideia do complô passa a ocupar os pensamentos de Gumm.

“O Tempo Desconjuntado” talvez fique na segunda prateleira da estante dos fãs de ficção científica, mas a experiência de leitura é bastante interessante, apesar dos altos e baixos. Décadas após o lançamento da obra, a questão da vigilância permanece sendo muito atual, e há diversas reflexões que se aplicam ao nosso dia a dia. Recomendo também pela bela edição em capa dura e pela qualidade da tradução.

Avaliação: 3/5

Ronan Sato

Especialista em assuntos aleatórios. Apesar de descendente de japoneses, não sabe afirmar com certeza se prefere comida indiana ou sushi

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