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Crítica “Lou” – #52FilmsByWomen

Lou (Lou Andreas-Salomé, 2016)
Duração: 1h 53min
Diretora: Cordula Kablitz-Post
Roteiristas : Cordula Kablitz-Post, Susanne Hertel
Elenco: Katharina Lorenz, Nicole Heesters, Liv Lisa Fries,
Matthias Lier, Katharina Schüttler, Alexander Scheer, Julius Feldmeier, Peter Simonischek,
Merab Ninidze, Petra Morzé
Trilha Sonora: Judit Varga
Direção de fotografia: Matthias Schellenberg
Edição: Beatrice Babin

#1

Iniciando o desafio 52 Films By Women (52 Filmes Por Mulheres), com uma semana de atraso, o filme do qual falarei hoje é Lou, produção alemã, do ano passado (2016), dirigido por Cordula Kablitz-Post. O filme é a biografia da psicanalista e escritora Lou Andreas-Salomé. Lou nasceu em 1861, em São Petersburgo. Filha de um militar tinha com ele um bom relacionamento afetivo, enquanto com sua mãe, vivia conflitos que perduraram sua vida inteira.

O longa inicia com uma pilha de livros sendo queimados. Livros escritos por Marx, Freud e outros autores considerados subversivos à época. Hitler acabou de ser nomeado chanceler e passa a perseguir todos os que produzem obras decadentes. Com isso podemos perceber que é um período de perseguição aos pensadores.

O filme é guiado pela personagem já idosa, reclusa em sua casa, sendo visitada pelo filólogo Ernst Pfeiffer (Matthias Lier). A relação que inicia como uma tentativa de consulta psicanalítica se torna uma amizade. Assim ele se tornou seu biógrafo. A medida que esses encontros acontecem ela se lembra de algum trecho de sua vida e narra para que ele transcreva.

Assim, podemos acompanhar a escritora da infância até o fim de sua vida. Conhecer melhor a natureza de seus relacionamentos com os homens que se encantaram por ela, seu empenho para ter uma vida acadêmia, conflitos pessoais e entendimento do mundo. A frente de seu tempo Louise Salomé ia em direção oposta as regras sociais vigentes. Para terror de sua mãe, seu objetivo de vida era adquirir conhecimento. Curiosa desde a adolescência, após o falecimento do pai passa a se dedicar aos estudos. Isso a levou a ser uma das maiores pensadoras e influenciadoras europeias nos séculos XIX/XX.

Em prol de ter tempo e energia para se dedicar a vida acadêmica e também em manter sua liberdade, se absteve dos relacionamentos. Essa postura instigou homens como os filósofos Nietzsche (Alexander Scheer) e Paul Rée ( Philipp Hauß), o poeta Rilke (Julius Feldmeier) e o psicanalista Freud (Harald Schrott). Ao se aproximar demais desses homens, ao menor sinal de posse ela escapava. A certeza de ser tolhida e impedida de viver seus sonhos a preparou para não se apegar àqueles que não estavam dispostos a tê-la sem a necessidade de um contrato – considerando que o casamento dava ao marido o poder de posse sobre suas esposas.

Mas Lou, não é um filme feito para falar desses homens e sim para afirmar a história dessa mulher, que nunca ficou nos bastidores. Autossuficiente, provocava furor na mente das pessoas, como ao convidar o amigo Rée para dividir um apartamento. Dentre essas e outras, foi julgada pelo senso comum. Diversas vezes foi difamada por quem não a entendia. Ainda assim não desistiu de alcançar seus objetivos.

Para compor a sensação de passagem de tempo a diretora usa do recurso de sobreposições da realidade às imagens de fotografias ou cartões postais. Com isso ela obtém um resultado que se assemelha a pinturas ou fotografias saturadas e desbotadas pelo tempo. A representação dos locais nos quais passam a trama é bela. As cenas que se passam ao ar livre remetem ao bucolismo e reforçam a percepção da liberdade de Louise. A trilha demarca as sensações sendo sempre muito suave ao ponto de se unir a ambientação ou de ser enfática em algum momento que aconteça alguma tensão.

Destaco, como momentos de apreço visual, a delicadeza dos encontros de Lou e Rilke nos quais ela se permite envolver e saciar seus desejos. A iluminação e o enquadramento permitem que observemos as expressões dos corpos, que transmitem permissão de intimidade de ambos. Em seus melhores momentos como amantes a diretora e diretora de fotografia conseguiram tornar a ambientação privada e aconchegante.

Desconhecida para muitos – eu mesma ouvi falar sobre ela devido a esse filme -, Lou deve servir de reflexão sobre as diversas mulheres da história do mundo, das quais não temos conhecimento. Vanguardista e influente Louise Salomé é uma pessoa a ser admirada.

O filme estreia no Brasil em 11 de janeiro de 2017.

Nota: 4/5

Yasmine Evaristo

Artista visual, desenhista, eterna estudante. Feita de mau humor, memes e pelos de gatos, ama zumbis, filmes do Tarantino e bacon. Devota da santíssima Trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch, sempre é corrompida por qualquer filme trash ou do Nicolas Cage.

3 thoughts on “Crítica “Lou” – #52FilmsByWomen

  • Karina Rocha

    O filme fala de uma mulher que tem uma grande personalidade, lutou pelos seus objetivos e os alcançou. Bacana poder conhecer mais sobre a vida de Lou!!

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  • Luana Souza

    Que filmão, olha a garra dessa mulher!!!! Corajosa, inspiradora foi em busca do que queria sem se preocupar com o que a sociedade queria impor naquela época. Lou maravilhosa e dona de si.

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  • Nathalia silva

    Quando vi a postagem anterior sobre esse filme comentei o quanto ele serve pra mostrar as grandes mulheres que já habitaram nesse mundo. Lou deve ter sido julgada em demasia em sua época (até hoje, nós mulheres, somos) e conhecer sua história deve ser verdadeiramente inspiradora. Espero poder ter a chance de assisti -lo algum dia.

    Resposta

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